O teólogo
Fabrício Veliq expõe que CRENÇA e FÉ têm relações e diferenças. É muito comum
que cristãos vejam outras religiões como crenças e a religião cristã como fé.
Desde muito cedo
na história do Cristianismo a crença foi ligada com a fé e durante um bom tempo
foram consideradas sinônimas. Uma vez que uma das definições da palavra crença
indica que ela é uma “convicção profunda”, ou uma “atitude de quem acredita em
pessoa ou coisa”, não foi difícil para a Idade Média pregar que para ser uma
pessoa de fé era necessário que fosse convicto a respeito da doutrina que se
era pregada no ambiente cristão.
Com o advento da
Modernidade, porém, esse tipo de conceito muda significativamente. A crença, a
partir, principalmente, do empirismo moderno passa a ser considerada como
“disposição subjetiva a considerar algo certo ou verdadeiro, por força do
hábito ou das impressões sensíveis”. Tendo isso em mente, e como não é possível
voltar ao passado, pensar a relação e as diferenças entre crença e fé em dias
atuais se torna algo importante e, até mesmo, necessário.
É comum, ao se
abordar essa temática pelo viés teológico, definir crença, como algo que seria
algo comum a todas as pessoas, mais ligada à ideia do acreditar em algo ou
alguém, como pode ser percebido cotidianamente nas diversas relações
familiares, institucionais, amorosas etc., uma vez que em todos esses tipos de
relacionamentos está pressuposto o acreditar que aquele/a em quem se confia não
nos trairá ou pagará o nosso salário em dia, etc. Esse sentido mais simples de
acreditar, que envolve certa certeza do que acontecerá, seria o que hoje se
define como uma crença.
A fé, por outro
lado, é definida como aquela que tem a ver com uma decisão fundamental de
entregar o seu coração a alguém ou a alguma coisa, de maneira que não é algo
que vem simplesmente pelo hábito, ou que deve ser crido cegamente, mas envolve
também uma reflexão a respeito daquilo sobre o qual se deseja depositar essa
fé.
Nesse sentido,
embora os conceitos estejam inteiramente inter-relacionados, a diferença se
mostra bastante substancial. E isso traz grandes consequências para a forma
como abordamos as diversas fés que se colocam dentro do aspecto religioso.
É muito comum
que os cristãos vejam as outras religiões como crenças e a religião cristã como
fé e nisso é possível perceber que no uso dos termos está implícita certa noção
de superioridade do Cristianismo em relação às outras religiões. De certa
forma, traz a ideia de que as outras religiões somente têm crenças e acreditam
cegamente em algo, enquanto o Cristianismo é a religião que possui a fé e, por
isso, a melhor de todas e a mais correta. Nada mais errôneo, até mesmo porque
pode haver cristãos que somente tenham uma crença cristã, assim como budistas
que tenham uma fé budista, e assim por diante.
Acreditar em
algo não gera a fé em algo, na perspectiva da teologia cristã. A fé sempre
pressupõe uma decisão em liberdade para ela e, portanto, nunca deve ser pensada
como sendo algo adquirido pelo simples hábito.
Estar cercado
por pessoas de fé não nos tornam pessoas de fé. Essa fé, como entendida no
Cristianismo, vem por meio de um encontro com uma pessoa que, conforme cremos,
é o crucificado que foi ressuscitado.
Por ser um
encontro, a fé não deve ser pensada de maneira fechada e nunca deve ser
encarada como convicção cega. Fé pressupõe esperança e somente nesse pano de
fundo é capaz de se desenvolver uma fé que se diz cristã.
Entendendo
crença e fé com essas diferenças, não é difícil inferir que se pode tanto ser
uma pessoa de crença como uma pessoa de fé. No primeiro, há sempre a tendência
a uma postura de fechamento diante das novas situações, presa nos aspectos
doutrinais e nas “convicções” aprendidas por meio do hábito e da cultura. No
segundo, uma vez que se mostra como decisão refletida e em liberdade, fruto de
um encontro que pode ser de diversas maneiras, tende a ser propensa a abertura
e ao diálogo com o diferente.
Fé e crença,
portanto, embora muitas vezes tratadas como iguais, revelam diferenças que não
devem ser deixadas de lado quando analisadas de forma mais profunda, visto que
as terminologias sempre podem influenciar grandemente o modo como nos
relacionamos com nossos irmãos e também com as outras religiões.
Encontramos no
site do irmão Luiz Marcelo Viegas, “O Ponto dentro do Círculo”, essa matéria de
autor anônimo, que diz:
Deísmo é um
sistema filosófico ou atitude dos que aceitam a existência de um Deus
destituído de atributos morais e intelectuais e que poderá ou não haver
influído na criação do Universo. O deísta crê em Deus, mas não aceita religião
nem culto, rejeitando toda espécie de revelação divina e, pois, a autoridade de
qualquer Igreja.
Em maçonaria os
sistemas ritualísticos podem ser divididos em ritos deístas, teístas e
adogmáticos. Determina essa diferenciação o texto do ritual relativo à
qualidade de consciência da presença de Deus nos trabalhos maçônicos e a
interpretação dos Princípios morais simbolizados na lenda da cerimônia
e no ornamento da Loja.
Exemplo de rito
deísta, o Rito Schröder foi concebido desde sua origem com um conjunto de
símbolos e cerimônias que guardam equidistância de religiões. Seus
praticantes têm autonomia de opção pessoal a partir da crença em Deus.
O Rito Schröder selecionou
da ritualística inglesa dos chamados “modernos” algumas referências à
construção do Templo de Jerusalém, por Salomão, sem, contudo, ultrapassar os
limites das analogias pontuais.
O sistema
ritualístico inglês caracteriza, hoje, o conteúdo teísta. Em 1717, a
ritualística da primeira Grande Loja foi deísta, quando abriu as portas das
Lojas para variadas opções religiosas pessoais dos seus filiados, sem
especificar uma a ser obedecida.
Em 1815, após o
surgimento da Grande Loja Unida da Inglaterra, a primitiva Constituição de
Anderson foi alterada, tornando-se dogmática e impositiva, atendendo
preferência dos representantes da segunda Grande Loja de Londres,
auto-proclamados “antigos”.
O Rito Escocês
Antigo e Aceito começou teísta, na afirmação documental de Albert Pike, em nome
do Supremo Conselho jurisdição Sul dos Estados Unidos.
No entanto, em
1875, Supremos Conselhos sediados em países católicos, reagindo às fortes ações
antimaçônicas, planejaram levar à Convenção de Lausanne, prevista para 1878, a
proposição de tornar as definições do Grande Arquiteto do Universo não
exclusivamente teístas, abertas a outras aproximações da espiritualidade dentro
do respeito da liberdade de consciência individual.
A proposição foi
aprovada e incluída na Declaração de Princípios do rito. Com essa decisão o
REAA tornou-se deísta durante poucos dias. Em seguida ao encerramento da
Convenção de Lausanne, o Supremo Conselho – Sul dos Estados Unidos contestou a
Convenção e, apoiado pelos Supremos Conselhos da Escócia e da Grécia,
recomendou aos Corpos irmãos do mundo a reformulação da Declaração de
Princípios a respeito da consciência livre sobre a compreensão do Grande
Arquiteto do Universo.
Fixou o sentido
teísta, impondo as crenças em um Deus pessoal e no dogma cristão da
imortalidade da alma. A divisão no REAA persiste até o presente,
alimentada pelo antagonismo dualista entre Supremos Conselhos teístas
personalistas e deístas não personalistas.
O Rito Moderno
representa o segmento ritualístico adogmático e laico (grifo nosso).
Foi um rito deísta a partir da sua estruturação com sete graus por
“Montaleau” (se bem que muitos dos seus praticantes eram da religião
Católica), sem chegar ao teísmo estrutural e, em 1877, decidiu em convenção, a
supressão da afirmação dogmática da existência de Deus e da imortalidade da
alma. Adotou o princípio do respeito absoluto à liberdade de consciência da fé.
Entendendo o Rito Moderno
Denomina-se como
Rito Moderno tudo o que parte da primeira Grande Loja da Inglaterra, que se diz
fundada a partir de 1717 e, que segue a ritualística nos moldes da publicação
feita por Samuel Prichard em 1730, no famoso livro “A Maçonaria Dissecada”.
Alguns maçons
simpatizantes do tradicionalismo antigo fundam em 1751 uma segunda Grande Loja,
tida, então, como a dos Antigos. Em 1813 as duas se fundem criando a Grande
Loja Unida da Inglaterra.
Nascido do
desejo de se criar uma unidade racional na diversidade de correntes de
pensamento vigentes à época, o Rito Moderno é filho e herdeiro direto do
pensamento iluminista.
Embora criado
sob moldes racionais, pautou inicialmente suas regras na primitiva Constituição
de Anderson, deísta e tolerante no aspecto religioso. Após a Revolução
Francesa, em 21 de maio de 1799, o GOdF (Grande Oriente da França) e a GLUI
(Grande Loja Unida da Inglaterra) redigem um tratado de união.
Entretanto, em
1815, a GLUI impõe a crença em um Ser Supremo Revelado através das Regras de 8
pontos de reconhecimento, o que gera um clima tenso entre o Grande Oriente e a
mesma.
Em 1877 vem a
ruptura definitiva entre as duas potências, quando o GOdF extingue a
obrigatoriedade da crença em Deus e na imortalidade da alma como reconhecimento
de um homem como maçom.
É oportuno
dizer, conforme relata em seus profícuos estudos o maçonólogo da Espanha, irmão
Joaquim Villalta, que a Maçonaria Belga, uma das maiores da Europa Continental,
havia se antecipado ao GOdF e, já em 1872, se declarava de forma
incontinenti, “Adogmática”, desobrigando-se e aos seus
afiliados, do uso do Dístico “Grande Arquiteto do Universo” (GADU).
Coerente com
esta linha de pensamento, e, talvez por causa disso, considerado o condutor da
Maçonaria do 3º. Milênio, o Rito Moderno dá ao maçom o direito de pensar com
irrestrita liberdade, o dever de trabalhar para o bem-estar social e econômico
do cidadão, e a capacidade de defender os direitos naturais e sociais do homem,
seja de qualquer cultura ou nacionalidade.
Este humanismo
explícito, muitas vezes atrita-se com o status quo social, do qual a religião é
um de seus pináculos básicos.
O Rito Moderno
não considera a Maçonaria como uma ordem mística, embora seus três primeiros
graus o sejam, baseados que estão no pensamento judaico-cristão. Ainda assim, o
maçom do Rito Moderno é naturalmente cientificista e, portanto, pedagogicamente
mais afeito à forma do aprendizado do que ao seu conteúdo.
O Rito Moderno
entende que a busca da verdade se realiza no Grau de Aprendiz pela intuição, no
Grau de Companheiro através da análise e culmina no Grau de Mestre pelo
desenvolvimento da capacidade de síntese, num processo evolutivo
lógico-racional baseado no pensamento científico contemporâneo.
Os padrões de
conduta do Rito Moderno são racionais e cartesianos, enriquecidos na
contemporaneidade, por um Humanismo essencialmente democrático e plural.
Características essenciais para um mundo globalizado.
O Rito Moderno
não considera a Maçonaria como uma Ordem Mística, embora seus três primeiros
graus estejam impregnados da mística das civilizações antigas.
Os padrões do
pensamento da Maçonaria Francesa são racionais e científicos, e se prendem à
época moderna, ao Humanismo.
Com muita
propriedade, o maçonólogo Joaquim Villalta expõe:
... “O Rito
Francês é essencialmente mítico. Ele transmite três mitos fundamentais: o mito
da passagem das trevas para a luz; o mito da construção do templo de Salomão e
o mito hirâmico. Não se pretende encontrar nele:
a) Nem o
pensamento religioso que implica total submissão a uma realidade absoluta (O
Rito Moderno ou Francês não contém nada religioso ou “sagrado” ou oração, ou
qualquer ato relativo a um caráter religioso em particular);
b) Nem o
pensamento esotérico entendido como uma revelação transmitida somente a alguns
eleitos (Esta tendência que pode se tornar sectária introduz uma clivagem entre
os irmãos que separa entre eleitos e condenados, pensamento que vai contra a
universalidade da Maçonaria. O Rito Moderno ou Francês defende o universalismo
e a possibilidade de que todos os seres humanos desenvolvam seu potencial);
c) Nem o
pensamento místico que busca a imersão total do indivíduo no que o supera (A
mitologia maçônica apoia-se na ideia de um projeto de construção; lida com o
aqui e agora; coloca o Homem no centro do universo, onde ele é material e
trabalhador ao invés de seu Templo interior, mas de exteriorização
compartilhada e projeção universal e responsável necessária);
d) Nem o
pensamento mágico que tenta controlar a realidade por operações mentais
profundamente irracionais entregues à teurgia, a alquimia ou a magia;
e) Nem o
pensamento ocultista que privilegia as superstições mais perigosas creditando à
influência dos “espíritos” sobre os humanos e que acredita, firmemente, em atos
de caráter mágico.
Seja qual for a
sua forma de ritual utilizado, o Rito Moderno ou Francês, se atém às suas
características originais; se impõe, hoje e amanhã, como uma expressão ordenada
e completa dos valores maçônicos “permanentes”: a busca da verdade, a
perfectibilidade para quem deseja progredir, a liberação para permitir o avanço
da mulher e do homem comprometidos como um elo na cadeia social”...
A síntese dos
debates da Assembleia em 1876, que levaram à resolução de 1877, mostra bem,
que:
“A
Franco-maçonaria não é deísta, nem é ateísta, nem sequer positivista. A
instituição que afirma e pratica a solidariedade humana, é estranha a todo
dogma e a todo credo religioso. Tem por princípio único o respeito absoluto da
liberdade de pensamento e consciência. Nenhum homem inteligente e honesto
poderá dizer, seriamente, que o Grande Oriente de França quis banir de suas
lojas a crença em Deus e na imortalidade da alma quando, ao contrário, em nome
da liberdade absoluta de consciência, declara, solenemente, respeitar as
convicções, as doutrinas e as crenças de seus membros”.
“O Rito Moderno
mantém-se tolerantemente imparcial, ou melhor, respeitosamente neutro, quanto à
exigência, para os seus adeptos, da crença específica em um Deus revelado, ou
Ente Supremo, bem como da categórica aceitação existencial de uma vida futura;
nunca por contestante ateísmo materialístico, mas unicamente, pelo respeito
incondicional ao modo de pensar de cada irmão, ou postulante.
Demonstra
apenas, a evolução das crenças estimulando os seus seguidores ao uso da razão,
para formar a sua própria opinião. Procura ensinar que a ideia de Deus resulta
da consciência e que as exteriorizações do seu culto não passam de um
sentimento íntimo, que se pode traduzir das mais diversas maneiras.”
Na excelente
exposição do irmão Mano Lima (Walter Celso de Lima) autor de várias obras
maçônicas, temos que:
Teísmo é a
doutrina religiosa e filosófica caracterizada por afirmar a existência de Deus,
de caráter pessoal e transcendente, soberano do universo e, principalmente, em
intercâmbio constante com a criatura humana. Trata-se de Deus revelado. A
palavra vem do grego Theós (Θεός) Deus, divindade, + -ismo. É comum
às religiões monoteístas; porém, pode-se aplicar também às politeístas. Em
todas as religiões politeístas há sempre um deus criador.
Deísmo é
a doutrina que considera a razão como única via capaz de assegurar a existência
de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento transcendental, a revelação ou
a prática de qualquer religião organizada. Não nega a possível existência de
Deus criador. A palavra vem do francês, déisme. O deísmo difundiu-se
principalmente entre os filósofos enciclopedistas e foi o precursor do ateísmo
moderno.
No deísmo, Deus
é visto como a “primeira causa” ou “princípio criador” e o início básico da
racionalidade do universo. Muitos deístas acreditam em um deus da natureza, um
criador não intervencionista, que permite que o universo corra o seu próprio
curso, de acordo com asa leis naturais. O deísmo não tem nenhum credo ou livro
sagrado. O inferno não existe é apenas um símbolo do mal que pode ser superado
pelo raciocínio do próprio homem.
Ateísmo é a
doutrina ou atitude que nega categórica, peremptória e definitivamente a
existência de Deus, asseverando a inconsistência de qualquer saber ou
sentimento religioso, seja aquele calcado na fé ou revelação, seja o que se
propõe a alcançar a divindade numa perspectiva racional ou argumentativa. A
palavra vem de a- (negativa) e Theós (Deus ou divindade) + -ismo.
Como não se pode provar a não existência de Deus, o ateísmo é paradoxalmente
uma crença, uma questão de fé na negação da existência de Deus.
Agnosticismo é a
doutrina que reputa inacessível ou incognoscível ao entendimento humano, a
compreensão dos problemas propostos pela metafísica ou religião como a
existência de Deus, o sentido da vida e do universo, etc.
Os agnósticos
acreditam que ultrapassam o método empírico de comprovação científica. O
agnóstico não está preocupado com Deus. Agnosticismo (em
inglês agnosticism) é um termo criado por Thomas H. Huxley calcado no
grego ágnoia (άγνοια) que significa ignorante.
Gnosticismo é um
movimento religioso, de caráter sincrético e esotérico, desenvolvido nos
primeiros séculos de era cristã à margem do cristianismo institucionalizado,
combinando misticismo e especulação filosófica. A- é a negação do gnosticismo –
agnosticismo.
Thomas Henry Huxley foi um biólogo inglês, especializado em anatomia comparada. Nasceu em 1825, em Ealing, Middlesex e faleceu em 1895, em Eastbourne, Sussex. Foi presidente de The Royal Society.
Criou o termo “agnosticismo” em 1889 para diferenciar de “ateísmo” e enquadrar a natureza das reivindicações dos cientistas sobre o que é cognoscível e sobre o que não é.
Huxley escreveu:
“O agnosticismo, de fato, não é um credo, mas um método, cuja essência reside
na aplicação rigorosa de um único princípio ... o axioma fundamental da ciência
moderna ... Em questões intelectuais, siga sua razão e como isso o levará, sem
levar em conta qualquer outra consideração ...
Em questões
intelectuais, não pretenda que as conclusões sejam certas se não são
demonstradas ou demonstráveis” (Huxley, 1889). Huxley estava preocupado em
apartar e dissociar a ciência das religiões e de Deus.
Recentemente
dividiu-se o agnosticismo em alguns tipos, expostos a seguir:
- Ateísmo
agnóstico – não crê na existência de nenhuma divindade, porém não afirma
saber que existe alguma divindade ou não (Barker, 2008).
- Teísmo
agnóstico – não afirma conhecer a existência de uma divindadeporém ainda
assim crê nela (Smith, 1979). Definição conflitante para mim, pois teísmo
significa um Deus revelado em contato continuo com o homem.
- Agnosticismo
apático ou pragmático – não há evidência da existência ou inexistência de
Deus, porém qualquer divindade que possa existir parece indiferente ao universo
ou ao bem-estar de seus habitantes, a pergunta é essencialmente acadêmica. Portanto
sua existência tem pouco ou nenhum impacto sobre os assuntos humanos (Tyrrell,
2006).
- Agnosticismo
forte (também chamado de agnosticismo "estrito",
"fechado" ou "permanente") – a questão da existência ou
inexistência de Deus ou deuses e a natureza última da realidade são
incognoscíveis devido a incapacidade natural de provar ou não provar a
existência de Deus ou deuses (Le Poidevin, 2010).
- Agnosticismo
fraco (também chamado agnosticismo "empírico",
"aberto" ou "temporário") - a existência ou inexistência de
qualquer divindade está atualmente além do conhecimento humano, mas não é
necessariamente incognoscível; portanto, suspenderá a prova até que a prova, se
existir, esteja disponível (Le Poidevin, 2010).
Há outros
conceitos importantes a serem definidos em seguida.
Panteísmo é
a crença de que tudo (matéria) e todos (seres) compõem um Deus abrangente e
imanente. Isto é, todo universo e toda natureza e Deus são idênticos. Os
panteístas, portanto, não acreditam num Deus criador. A palavra panteísmo é
derivada do grego πᾶν (pan que significa “tudo”) e θεός
(theos que significa Deus ou divino).
Pandeísmo é
a crença religiosa que provem do panteísmo e do deísmo. Isto é, a crença de que
o Criador criou o universo e deixou de existir como uma entidade separada e
consciente.
Disteleologia defende
que a existência não tem causa final. É uma forma agressiva e otimista do
ateísmo.
Há dois
conceitos distintos sobre “irreligião”. Pode ser um teísta que não pratica
nenhum culto. Ou aquele que simplesmente não segue nenhuma religião organizada.
Secularismo é
o princípio da separação entre instituições governamentais e instituições
religiosas. Não é exatamente o mesmo que laicismo.
O secularismo
afirma o direito à liberdade da imposição governamental de uma religião ou
crença sobre o povo dentro de um estado que é neutro em matéria de
crença.
Laicismo é
aquilo que é independente do clero, da igreja (de qualquer igreja) e da
religião (de qualquer religião).
Em sentido mais
amplo, aquilo que é independente de qualquer confissão religiosa. Laicismo é a
condição, a situação ou o caráter do que é laico. Laicidade é a qualidade do
que é laico.
A palavra
“laico” origina-se do latim laicus, a, que significa leigo. A palavra
latina origina-se do grego laikós (λαικος) significa “do povo (povo
experiente) ”.
Num sentido mais
amplo laicismo é aquilo que é independente de qualquer religião; está acima de
qualquer religião ou de qualquer discussão sobre Deus.
O laicismo desenvolveu-se
principalmente em França o que demonstra a influência da política francesa de
laicismo no Rito Moderno. Na verdade, o Rito Moderno e o Francês passaram por
várias fases do deísmo, ao positivismo e ao laicismo.
Em direito, o
laicismo é o “princípio da separação no Estado da sociedade civil e da
sociedade religiosa”. Distingue-se do secularismo. A palavra “laicismo”
refere-se, por extensão, ao caráter de “instituições, públicas ou privadas,
independentes do clero e das igrejas”. O laicismo se opõe ao reconhecimento de
uma religião do Estado. Laico significa, portanto, aquele que está acima, ou
independente, das religiões.
O conceito de
laicismo tem origem nos escritos dos filósofos gregos e romanos como Epicuro e
Marco Aurélio, e dos pensadores iluministas como Locke, Bayle, Diderot e Voltaire,
além dos pais fundadores dos EUA, como James Madison, Thomas Jefferson e Thomas
Paine.
O princípio do
laicismo tomou forma pela primeira vez durante a Revolução Francesa: a abolição
do Antigo Regime em agosto de 1789 foi acompanhada pelo fim dos privilégios
eclesiásticos e a afirmação de princípios universais, incluindo a liberdade de
religião, consciência e igualdade de direitos, conforme expresso na Declaração
dos Direitos do Homem. O texto da Declaração dos Direitos do Homem foi
incorporado ao preâmbulo da Constituição Francesa de 4 de outubro de 1958.
No século XIX,
as leis de laicismo, em França, gradualmente libertaram o Estado de seus laços
históricos com a Igreja Católica e criaram novas normas políticas e sociais
baseadas no princípio do universalismo republicano.
Este processo,
que teve lugar num movimento mais amplo, ligado à modernidade, confiou ao povo
soberano a redefinição dos fundamentos políticos e sociais. A educação, os
ritos da vida civil, a evolução da lei e da moralidade, etc., tornaram-se
independente de qualquer dogma religioso.
A Terceira
República em França (1870-1940) recriou, notavelmente, a organização do sistema
escolar, instituindo educação pública, laica e obrigatória (leis de Jules
Ferry). As leis de Jules Ferry, sobre laicismo na educação foram promulgadas em
1881.
Jules Ferry,
nasceu em 1832, em Saint-Dié (Vosges), Lorraine, e faleceu em 1893, em Paris.
Político francês, Ministro da Educação Pública e das Belas Artes, Presidente do
Conselho de Ministros e Presidente do Senado. Foi maçom ativo desde 1875, da
Loja Alsace-Lorraine, do GOdF. O Ir Ferry trabalhava no Rito Francês.
As leis de Jules
Ferry são complementadas pela Lei de Goblet de 1886, sobre a organização da
educação primária, cujo artigo 17 declara que o ensino em escolas públicas, de
todos os tipos, é exclusivamente confiado a um pessoal laico. Este processo
culminou em 1905 com a Lei da Separação de Igrejas e do Estado, que marcou o
culminar de um claro laicismo.
René Goblet foi
outro maçom defensor do laicismo, incluindo na Maçonaria. René Goblet nasceu em
1828, em Aire-sur-la-Lyz, departamento de Pas-de-Calais e faleceu em 1905, em
Paris. Foi um jornalista e político francês. Foi advogado republicano e assim
começou sua carreira. Foi subsecretário de Estado da Justiça. Foi Ministro do
Interior, quando aprovou uma lei para que os prefeitos fossem eleitos. Foi
Ministro da Instrução Pública, quando lutou pela laicidade do ensino público.
Foi Presidente do Conselho de Ministros e Ministro do Interior, coroando sua carreira
política como Presidente do Conselho. Depois foi Ministro das Relações
Exteriores. Foi um ativo Mestre Maçom, membro da Loja "La Clémente
Amitié" do Grande Oriente da França, que trabalhava no Rito Francês.
É, portanto, a
lei de 9 de dezembro de 1905 que codifica os princípios do laicismo em França.
Confirma em seu artigo 1 (Título 1º, Princípios) a liberdade de consciência, já
presente no artigo 10 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789,
e o livre exercício dos cultos: "A República garante a liberdade de
consciência. Garante o livre exercício dos cultos sob as únicas restrições
promulgadas abaixo, no interesse da ordem pública".
A afirmação de
França como uma “República laica”, separada das religiões é constitucionalizada
pela Constituição de 1946, retomada pela Constituição de 1958:
artº 1º: “La France est une République indivisible, laïque, démocratique et
sociale. Elle assure l'égalité devant la loi de tous les citoyens sans
distinction d'origine, de race ou de religion. Elle respecte
toutes les croyances. Son organisation est décentralisée”.
Tradução:
("A França é uma República indivisível, laica, democrática e
social. Garante a igualdade perante a lei de todos os cidadãos sem
distinção de origem, de raça ou de religião. Respeita todas as crenças. Sua
organização é descentralizada”)
O trabalho
conjunto dos Irs\ Jules Ferry e René Goblet, convenceu as autoridades do
GOdF a tornar o Rito Moderno um rito laico, copiando o que se fez em Bélgica em
1872. Ir\ Jules Ferry, respondeu em 1886, a pergunta título deste ensaio:
“Le Rite Français est laïque, pas agnostique. Les concepts de laïque et
d'agnostique s'excluent mutuellement” (Huguenot, 2014).
Tradução: (O
Rito Francês é laico e não é agnóstico. Os conceitos de laico e agnóstico são
mutuamente excludentes).
Isto é, se é
laico não há nenhuma discussão sobre Deus ou religião. Se é agnóstico,
discute-se que Deus é incognoscível ao entendimento humano.
“DOGMA”: Ponto
fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa;
“DOGMATISMO”:
Doutrina que afirma a existência de verdades certas e que se podem provar;
“ADOGMATISMO”:
Orientação filosófica que se opõe às doutrinas formalmente estabelecidas.
Adogmático,
“O Rito Moderno mantém-se tolerantemente imparcial, ou melhor, respeitosamente neutro,
quanto à exigência para seus adeptos, da crença específica em um Deus revelado,
ou Ente-Supremo, bem como da categórica aceitação existencial de uma vida
futura; nunca por constante ateísmo materialístico, mas, unicamente, pelo
respeito incondicional ao modo de pensar de cada Irmão, ou Postulante.
Demonstra, apenas, a evolução das crenças, estimulando seus seguidores ao uso
da Razão, para formar sua própria opinião.
Procura ensinar
que a ideia de Deus resulta da consciência e que a exteriorização do seu culto
não passa de um sentimento íntimo, que se pode traduzir de várias maneiras.
Indica como dever aos maçons: o aperfeiçoamento pela análise de todas as ideias
liberais, igualitárias e generosas; a elevação do espírito à concepção de uma
incessante orientação progressista; e a plena conscientização do papel
coletivo, que deve desempenhar na Terra, o Homem Permanente e Impessoal, de que
a Ordem Maçônica é a personificação”.
Como já
vimos, em 1877, a Assembleia Geral do Grande Oriente de França decidiu suprimir
o preceito até então proclamado como o princípio fundamental da Maçonaria: a
crença em Deus e a imortalidade da alma.
Essa supressão,
vitoriosa, obrigou o Grande Colégio dos Ritos a reformular os Rituais, o que só
ocorreu em 1886, porque foram muitas as resistências a vencer. A supressão
daquele princípio fundamental produziu o abandono da fórmula: “A Glória do
Grande Arquiteto do Universo”, bem como à retirada da Bíblia do Altar dos
Juramentos.
A
Constituição do Grande Oriente de França, após a reforma de 1877, estabelece em
seu art. 1º., depois de definir os objetivos e princípios da Instituição: “A
Franco-Maçonaria, considerando que as concepções metafísicas são do domínio
exclusivo da apreciação individual de seus membros, recusa-se a qualquer
afirmação dogmática”.
Em homenagem ao
Grande Oriente de França, convém deixar bem claro os motivos por que ele operou
essa reforma. Sua atitude não traduziu, como poderia parecer, reação ao
Sillabus, o código de intolerância do Papa Pio IX, decretado em dezembro de
1864.
O Grande Oriente
não passou da posição deísta para a posição ateia. Absolutamente.
Não se impunha
ateísmo a ninguém. O voto nº. 9, em virtude do qual a Assembleia suprimiu
aquela afirmação dogmática de crença em Deus e na imortalidade da alma, tem a
sua genuína interpretação nos Boletins do Grande Oriente de França, dos anos de
1876 e 1877.
No Boletim de
1876, à pág. 373, se lê:
“Só a má fé pode assimilar a supressão, que se pretende, a uma negação da
existência de Deus e da imortalidade da alma. Pleiteamos, sim, como bases
exclusivas da Franco-Maçonaria a solidariedade humana e a liberdade de consciência,
mas essas bases comportam a crença em Deus e em uma alma imortal, tanto quanto
autorizam o materialismo, o positivismo ou qualquer outra doutrina filosófica”.
Em matéria
de fé, ela não afirma nem nega. Ela respeita de modo igual todas as convicções,
doutrinas e crenças sinceras. “Assim, as portas de nossos Templos se abrem
diante do protestante, como diante do católico, diante do muçulmano como diante
do cristão, diante do ateu como diante do deísta, desde que sejam homens de
bem”.
“Nenhum homem
inteligente e honesto poderá dizer seriamente que o Grande Oriente de França
quis banir de suas Lojas a crença em Deus e na imortalidade da alma, quando, ao
contrário, em nome da liberdade absoluta de consciência, ele declara
solenemente respeitar as convicções, as doutrinas e as crenças de seus membros.
Nós não
afirmamos nem negamos nenhum dogma, para nos mantermos fiéis aos nossos
princípios e à prática da solidariedade humana. Se convém aos Grandes Orientes
estrangeiros nos caluniar, deturpando nossos pensamentos e desnaturando nossos
sentimentos, que o façam: são livres”.
Em 1877, quando
a Assembleia ainda debatia o assunto, proclamava-se (Boletim, pág. 243):
“Deixemos aos teólogos o cuidado de discutir os dogmas.” Deixemos às igrejas
totalitárias o cuidado de formular os Sillabus. Mas que a Maçonaria se torne o
que deve ser: uma instituição aberta ao progresso, a todas as ideias morais e
elevadas, a todas as aspirações largas e liberais. Que ela não desça jamais à
arena ardente das discussões teológicas, que não têm trazido senão dissensões e
perseguições. Que ela se guarde de querer ser uma Igreja, um Concílio, um
Sínodo! Porque todas as Igrejas, Concílios e Sínodos têm sido violentos e
perseguidores, porque o dogma é, por sua natureza, inquisidor e intolerante.
Que a Maçonaria
paire, pois, majestosamente, acima de todas as questões de igrejas ou de
seitas; que ela sobreleve do alto, todas essas discussões; que ela se torne o
vasto abrigo, sempre aberto a todos os espíritos generosos e bravos, a todos os
perquiridores conscienciosos e desinteressados da verdade e a todas as vítimas,
enfim, do despotismo e da intolerância.
A Moção que
adotou o voto nº. 9, supressivo, consta, finalmente, à fl. 248 do Boletim de
1877:
“A Assembleia,
considerando que a Franco-Maçonaria não é uma religião, não pode, por
consequência, afirmar em suas Constituições doutrinas ou dogmas”.
O texto aprovado
estabelecia: “A Franco-Maçonaria, instituição inteiramente filantrópica e
progressista, tem por objetivo a procura da verdade, o estudo da moral
universal, das ciências e das artes e o exercício da beneficência. Tem por
princípios a liberdade absoluta de consciência e a solidariedade humana. Não
exclui ninguém por suas crenças. Tem por divisa: Liberdade, Igualdade e
Fraternidade”, (“Les Franc-Maçons”, de Serge Hutin, ed. 1960, pág. 109, coleção
“Le Temps qui court”).
É curioso
assinalar-se que a aprovação se deu após um discurso muito aplaudido do Ir∴ Desmons, que não era livre pensador, mas um pastor
protestante.
No Brasil, já na
República, entre 1891-1901, o Grão-Mestre Antônio Joaquim de Macedo Soares,
tendo como Secretário-geral Henrique Valadares, deu à Maçonaria grande
influência francesa e, como diz Viegas em 1986: “julgando-se dentro do espírito
da lei da separação entre a Igreja e o Estado, amoldou-se melhor o Rito Francês
ao eliminar a Bíblia do Altar dos Juramentos e suprimir as referências ao
Grande Arquiteto do Universo.”
A reforma
constitucional de 1877 só alcançava a jurisprudência do Grande Oriente de
França, mas o Grande Oriente do Brasil, onde se praticava o Rito Francês
acompanhou aquela Potência.
A maçonaria é
equidistante das religiões, não é uma seita religiosa, e os Irmãos que
assim a tornam são, evidentemente, ou aqueles que
procuram desvirtuá-la, ou aqueles que, insatisfeitos com
suas religiões procuram na Maçonaria uma nova religião ou a
compensação para as suas frustrações místicas.
E, é baseado na
equidistância perante as religiões que o Rito Moderno não adota a
existência da Bíblia no Triângulo de Compromissos (Altar de Juramentos
para outros Ritos). Os defensores da colocação da Bíblia alegam que
deve haver um "livro da lei revelada". A Bíblia só passou a ser
adotada em algumas Lojas a partir de 1740, antes disso Anderson e os
demais Maçons aceitavam a obrigação do "Livro da Lei", Lei
Maçônica, Lei Moral.
Acrescente-se,
ainda, que existem religiões, tais como a Umbanda, o Candomblé,
a Pajelança e outras, com diversos adeptos entre nós
que não possuem um livro da lei revelada, cuja tradição é
oral. Perguntamos: que livro religioso se colocaria na presença de
tais Irmãos?
Nosso
"Livro da Lei" são os princípios da Sublime Ordem, quando muito
as Constituições das Potências às quais pertença a Loja, onde constam
tais princípios.
As Constituições
de Anderson, em sua redação original, que deu origem à
institucionalização da moderna Maçonaria foi muito usada pelo mundo afora,
no entanto, merece consideração o que diz a respeito dessas Constituições o
nosso irmão Kennyo Ismail:
“... Outro dia
estava na instalação e posse de um Venerável Mestre em Oriente de outro Estado
que não o que resido. Fui surpreendido com algumas passagens da cerimônia, em
especial no compromisso assumido. Uma das perguntas feitas ao empossando
solicitava o compromisso de seguir estritamente a Constituição de Anderson e a
Constituição daquela Obediência. Tamanho é o fascínio dos maçons brasileiros
pela Grande Loja Unida da Inglaterra que, até mesmo uma Obediência que não tem
atualmente o reconhecimento da mesma, estava solicitando a um Venerável Mestre
que seguisse uma Constituição que supostamente é de outra Obediência. Pode um
irmão seguir duas constituições distintas? De duas Obediências distintas? Cada
Obediência não é soberana? Será que não há nada em uma constituição que é
incompatível com a outra? Quem escreveu essa cerimônia já leu alguma vez a
Constituição de Anderson? Sabe o que ela diz? E o mais importante: sabe que a
Constituição de Anderson não é mais utilizada pela Grande Loja Unida da
Inglaterra há mais de 250 anos? Que não tem valor prático, apenas histórico?
Uma simples
leitura da Constituição de Anderson deixa qualquer maçom sério envergonhado.
Seu primeiro capítulo é dedicado a apresentar uma genealogia maçônica,
indicando Adão como o primeiro maçom, com vários pontos fantasiosos, passando
por Augusto César, tido como um Grão-Mestre, até chegar aos reis ingleses.
Então diz que a
Rainha Elizabeth desestimulou a Maçonaria por ser mulher e, portanto, não podia
ser maçom. Mas então o Rei James VI, sendo maçom, reanimou a Maçonaria.
E então a
Maçonaria tem sido governada pelos reis e príncipes ingleses desde então. E
essa história é então repetida de forma resumida na “Música do Mestre”.
Fica evidente
que não foi à toa que Desaguliers escolheu James Anderson para escrevê-la:
Anderson era conhecido por fazer bicos, criando genealogias míticas, para não
dizer falsas, para famílias inglesas que desejavam um upgrade em seus
históricos.
Sua constituição
maçônica é considerada “uma mistura de compilação e fantasia, invenção e
manipulação, clareza e ambiguidade e de fato de erro”.
Ainda, há alguns
pontos da Constituição de Anderson que, dentre outros, podemos apontar como
conflitantes com os regulamentos maçônicos brasileiros atuais, de modo geral:
1 - A exigência
de que o candidato “descenda de pais honestos”;
2 - O
Grão-Mestre escolhe e nomeia seu Grão-Mestre Adjunto;
3 - Nenhuma Loja
jamais iniciará “qualquer homem abaixo de vinte e cinco anos de idade”;
4 - Nenhum homem
pode ser iniciado “sem o consentimento unânime de todos os membros” da Loja.
Nesse sentido,
como pode um maçom seguir a Constituição de Anderson e seguir a Constituição de
sua Obediência sem desrespeitar uma ou outra? Acaba que, por elementos
contraditórios, o compromisso assumido torna-se vazio, sem valor. Fruto duma
desinformada veneração à GLUI, até mesmo por aqueles que não têm sido
reconhecidos por ela...”
Fica a reflexão!
Uso da
Bíblia em Lojas do GOB - Grande Oriente do Brasil, praticantes do Rito Moderno.
Em 1969, houve a
decisão final adotada pelo Mui Poderoso e Sublime Capítulo do Rito Moderno,
hoje, SCRM - Supremo Conselho do Rito Moderno. (Vide Ritual do GOB de 2009,
págs. 17 - 23 ou Boletim do Grande Oriente do Brasil nº. 8 - Ano 98 –
Agosto/Setembro de 1969 - págs. 61- 63.
DECISÃO SOBRE O
USO DA BÍBLIA
Vale
do Lavradio, 15 de Setembro de 1969, E∴ V∴.
Soberano Grão-Mestre,
Levamos ao
conhecimento do Pod∴ Ir∴ que o Muito Pod∴ e Sub∴ Grande Cap∴ do Rito Moderno para o Brasil, em Sessão realizada aos oito
dias do mês de setembro do ano de 5969 da V∴ L∴, tomando
conhecimento da comunicação verbal formulada pelo Grão Mestrado, ao propósito
das preocupações da Potência Simbólica, no que tange à colocação do Livro da
Lei (especificamente a Bíblia), como uma das alfaias das Lloj∴ Simbólicas, houve por bem tomar a Resolução anexa a este.
Seja-nos lícito
enfocar a posição desta Oficina, que jamais abdicou ou abdicará de suas
prerrogativas, mas tão somente se permitiu examinar o aspecto material da
questão, no pertinente às conveniências internacionais.
Ademais disso,
esta Potência, centenária e regular, não poderia se furtar ao exame da matéria,
porém, dentro do prisma em que foi equacionada, até porque, é de sua tipicidade
apreciar e discutir problemas que interessem à Ordem dentro do campo amplo do
filosofismo.
Esperando ter
dado mais uma contribuição para o Simbolismo, sem quaisquer laivos de
ingerência, aproveitamos o ensejo para enviarmos o Trip∴ Abr∴ Frat∴ ao querido e Pod∴ Ir∴.
Atenciosas
saudações,
Henrique Cândido
Camargo - Gr∴ lnsp∴.
“Trata” a
presente convocação, de Sessão especial para se tomar conhecimento da
comunicação formulada pelo Grão-Mestre Geral da Ord∴ (Potência Simbólica), através o comparecimento do Pod∴ Ir∴ CARLOS
KEIDEL, passado para o Or∴ Eterno,
para nos dar conta das preocupações da Potência Simbólica, no que tange à
colocação do Livro da Lei (especificamente a Bíblia), como uma das alfaias da
Loj∴ Simbólica.
Ciente da
comunicação verbal, e examinando-a detidamente, esta Oficina Filosófica passou
a deliberar:
CONSIDERANDO que
é da competência da Potência Simbólica a administração dos Graus Simbólicos, na
forma do art. 154 da Constituição do Gr∴ Or∴ do Brasil;
CONSIDERANDO que
a Potência Simbólica exerce na mais completa independência essa administração,
abrangendo toda a jurisdição nacional;
CONSIDERANDO que
o simbolismo está prenhe de atos e fatos consignados no VELHO TESTAMENTO;
CONSIDERANDO,
entretanto, que a história da maçonaria na sua parte exotérica é por vezes
tumultuada pela ficção, decorrendo daí deturpação de seus conceitos;
CONSIDERANDO,
todavia, que a parte esotérica não admite sequer, ainda que remotamente, DOGMAS
ou CISMAS dentro da instituição;
CONSIDERANDO
que, no que tange à colocação da BÍBLIA no Altar dos Juramentos ou Altar dos
Compromissos tem ocasionado sérias controvérsias, haja vista a interpelação
formulada pela Gr∴ Loj∴ do Uruguai ao propósito da imposição inglesa;
CONSIDERANDO,
ainda, que a Loja Mãe adota para seus trabalhos, não a Bíblia, em
seu contexto integral, mas, apenas, o Pentateuco, isto é, os
cinco primeiros livros do Velho Testamento, e que são Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio;
CONSIDERANDO,
por outro lado, que, segundo "As Marcas ou Lei Tradicional", de
Albert G Mackey, item XXI, o "Livro da Lei" não há de ser necessariamente
a Bíblia, mas, sim, o volume que, segundo a religião do país, se crê que
contenha a revelada vontade do Gr∴ Arq∴ do
Universo;
CONSIDERANDO
que, de acordo com o mesmo item, Mackey afirma que a maçonaria não há de se
intrometer na consciência religiosa de seus membros, exceto no que corresponde
a crença em DEUS e na imortalidade da alma que, logicamente, se derivam
daquela;
CONSIDERANDO,
por outro lado, que para ingresso na Ordem exige-se sem nenhum outro
condicionamento que o profano seja homem livre e de bons costumes;
CONSIDERANDO,
ainda, que a gênese das expressões "ateu estúpido" e
"libertino irreligioso" consignadas no artigo primeiro dos
ANTIGOS DEVERES, teve origem em fatos religiosos e políticos, decorrentes do
escândalo provocado pelo duque PHILIP DE WARTON, presidente dos HELL FIRE
CLUBS, e eleito Gr∴ Mest∴ da Gr∴ Loj∴ da Inglaterra, como se pode constatar in "La Charte
inconnue de La franc-maçonnerie chrétienne" de Alec Mellor,
págs. 32/37;
CONSIDERANDO, mais,
que a Bíblia é um símbolo sagrado que, entretanto, a nenhum maçom se lhe exige
a crença exclusiva em seus ensinamentos e que se pode substituí-la por outros
livros igualmente sagrados;
CONSIDERANDO que
o RITO MODERNO não é DEÍSTA, nem TEÍSTA, por não admitir dogmas, porém, não é
antideísta nem antiteísta, não sendo obviamente POSITIVISTA e muito menos ATEU;
CONSIDERANDO que
o RITO MODERNO não é necessariamente AGNÓSTICO, mas sua posição se situa dentro
da PRUDENTE NEUTRALIDADE que deve viger, isto pela sua própria constituição,
pois respeita a liberdade de consciência de todos os que para ele acorrem;
CONSIDERANDO,
ainda, que o RITO MODERNO, pela sua indiscutível flexibilidade, é o que pode
concentrar toda a gama estrutural concebida por ANDERSON, quando no artigo
primeiro da sua Constituição, in-fine, assim se pronunciou:
"De sorte
que a Maçonaria é o CENTRO DE UNIÃO e o meio de conciliar verdadeira
FRATERNIDADE entre pessoa que teriam permanecido perpetuamente
distanciadas".
Afirmação tanto
mais oportuna quanto é certo que na atual conjuntura os conceitos hão de ser
reformulados face ao dinamismo tecnológico do mundo moderno;
CONSIDERANDO que
não se deve confundir sentimento religioso com religião, eis que esta se calca
em dogmas e aquele nada mais é que um bem da inteligência humana;
CONSIDERANDO que
é um grande erro assinalar-se abusivamente a natureza religiosa da Ordem, de
confundir teologia com filosofia, dogma e pensamento de livre escolha;
CONSIDERANDO que
à Oficina Chefe do Rito compete a fiscalização da observância da liturgia e da
ritualística;
CONSIDERANDO que
o Livro da Lei faz parte integrante das luzes da Loj∴ ao lado do Esq∴ e do Comp∴;
CONSIDERANDO,
por derradeiro, que esta Oficina Filosófica cuida única e exclusivamente dos
Graus Filosóficos:
R E S O L V E:
- AO TOMAR
CONHECIMENTO DA COMUNICAÇÃO DO GRÃO-MESTRADO, ATRAVÉS A PALAVRA DO IL∴ GR∴ SEC∴ DAS RELAÇÕES EXTERIORES, NOS TÊRMOS DA QUAL SOBRELEVAM-SE AS
CONVENIÊNCIAS INTERNACIONAIS DO GR∴ OR∴ DO BRASIL,
E NÃO OBSTANTE
OS CONSIDERANDOS ACIMA MENCIONADOS, DECLARAR A COMPETÊNCIA DA POT∴ SIMB∴ PARA ADOTAR
A RESOLUÇÃO QUE HARMONIZE A DOUTRINA MAÇÔNICA COM O ESPÍRITO E A FORMA DE SEUS
COMPROMISSOS EXTERNOS, NO TOCANTE A DEFINIÇÃO DA BÍBLIA COMO O LIVRO DA LEI
PARA O BRASIL.
Templo dos
Capítulos, aos 8 dias do mês de setembro do ano de 5969 da V∴ L∴.
Henrique Cândido
Camargo - Gr∴ lnsp∴.
Samuel da Rocha
Fonseca - Gr∴ Secr∴.
Bem, meus QQII, a
Maçonaria exige a crença em um "Princípio Criador, sobre o qual não
desenvolve doutrina, deixando que cada obreiro o interprete segundo sua
religião, sem apresentar suas concepções metafísicas pessoais ou detalhes sobre
o além, como se fossem ensino maçônico (Eleutério). O importante é que, assim
que iniciado, seja qual for o Rito por que passou pelo cerimonial de iniciação,
busque conhecer, amiúde, as mais variadas vertentes ritualísticas maçônicas,
para que tire as suas próprias conclusões e melhor desempenhe o seu
conhecimento, no sentido de que complete o seu EU interior.
Dessa forma,
encerramos o tema para essa ocasião, colocando-me a disposição, para junto dos
irmãos, buscar novos horizontes, no sentido que se traga mais luzes que
equacionem os entendimentos dos dirigentes das Potências detentoras de
poderes para tal, de forma a privilegiar a todos.
Um grande T∴ A∴ F∴.
Cleber Tomás
Vianna, MI;
Defensor Perpétuo do Rito Moderno;
Membro da
Academia Maçônica de Letras e Artes da Bahia;
Delegado do Rito
Moderno (SCRM)/BA-SE-PI;
Secretário
interino de Orientação Ritualística;
Relações
Exteriores da CMB – Corporação Maçônica da Bahia e
Secretário de
Relações Exteriores do Supremo Conselho REAA de SP;
Membro da
Academia Internacional Vª Ordem - UMURM
CRÉDITOS:
VIANNA, Cleber
Tomás: Livro Rito Francês ou Moderno – Fundação, Usos e Costumes no Brasil,
Edição por Demanda/2018;
Walter Celso de
Lima: JB_NewsInformativo_nr_2245/224;
Walter Celso de
Lima: RM Laico;
Victor Guerra, M∴ M∴ y Vª Orden - y 9º de las Ordenes de
Sabiduría del Rito Francés y Moderno, Venerable Logia Investigación Los
Modernos, Presidente del Círculo de Estudios de Rito Moderno y Frances
Roëttiers de Montaleau; Site: www.ritofrances.net;
Joaquim Villalta, Vª Orden, Gr.·. 9, 33º, Director de la Academia
Internacional de la Vª Orden - UMURM, Gran Orador del Sublime Consejo del Rito
Moderno para el Ecuador, Miembro Honorario del Soberano Grande Capítulo de
Cavaleiros Rosa-Cruz / Grande Capítulo Geral do Rito Moderno ou Francês de
Portugal y del Grande Oriente Lusitano, Miembro de Honor del Gran Oriente
Nacional Colombiano, Soberano Gran Inspector General y Miembro Honorario del
Supremo Consiglio del 33º ed Ultimo Grado del R.S.A.A. per l’Italia e sue
Dipendenze, Muy Poderoso Soberano Gran Comendador del Supremo Consejo del Grado
33º para España del Rito Antiguo y Aceptado (Rite de Cerneau / Thompson-Folger
Supreme Council for The United States of America, their Territories and
Dependencies); Blog: (https://racodelallum.blogspot.com.br/);
Boletins do GOB
(diversas edições conforme mencionados no corpo do trabalho);
Ritual Aprendiz
Rito Moderno/GOB-2009;
O GOB nasceu no
Rito Moderno: blog.msmacom.com.br/o-gob-nasceu-rito-moderno;
A concepção do
Grande Arquiteto no Universo no Rito Moderno – palestra ministrada pelo irmão
Dr. Álvaro Palmeira, extraído do Boletim do GOB 3, 4 e 5 de 1986 [06/02/1961],
publicado no site do irmão José Filardo:
bibliot3ca.com/a-concepcao-do-grande-arquiteto-do-universo-no-rito-frances-ou-moderno/;
https://domtotal.com/noticia/1273499/2018/07/crenca-e-fe-relacoes-e-diferencas/
https://www.noesquadro.com.br/conceitos/constituicao-de-anderson-nos-dias-atuais/
https://opontodentrocirculo.com/2015/06/09/deismo/
Direitos reservados aos seus autores.