LANDMARKS: Por el M.·. Il.·. H.·. Antonio Onías Neto


Quiero publicar en este Blog un trabajo realizado por uno de los Francmasones más sabios, íntegros, valientes y ejemplares que he conocido en la Orden, y que el destino tuvo a bien que pudiera yo gozar de sus enseñanzas consejos y reflexiones. Es una gran pena ya no poder seguir aprendiendo de su profundo conocimiento (pues ahora ocupa su Columna en el Oriente Eterno) el cual daba a todo hermano o Hermana que lo precisara sin importar su pertenencia a la masonería denominada Regular que él consideraba una coyuntura política ajena a lo puramente masónico. Les dejo con este referencial desarrollo magistral acerca de los Landmarks, que tras leer su aportación, harán sentir vergüenza ajena a más de uno.

Joaquim Villalta

 Qual a origem e o significado da palavra LANDMARQUE?
Ela origina-se do inglês. LAND: terra, país, terreno ou território, MARK: marco, sinal, mancha. Em inglês define-se LANDMARK como lugar conhecido, ou marco de território. Em português diríamos marca de terreno, estaca, baliza, lindeiro, marco lindeiro, linda, limite territorial.
         Vamos encontrar nesse sentido, pela primeira vez, na Bíblia em:
         Jó, 24, 2 - “Há os que removem os limites,......”
         Deuteronômio, 19,14 - “Não removerás os marcos do teu próximo, os quais teus antecessores fixaram na tua herança.........”
         Deuteronômio,  27,17 - “Maldito aquele que remove os marcos do seu próximo.”
         Provérbios, 22, 28 - “Não removas o antigo marco, que teus pais puseram.”
         Provérbios, 23, 10 - “Não removas o antigo marco, nem entres nos campos dos órfãos; ......”

         Na Maçonaria, vemos, com o sentido de antigas obrigações, usos, costumes, tradições, ser empregado pela primeira vez em 1721, na compilação dos Regulamentos Gerais da Grande Loja de Londres, em seu artigo 39, quando era Grão Mestre nosso irmão George Payne: “Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarques....”
         No entanto, já em 1723, a Assembléia Geral da Grande Loja da Inglaterra substitui a palavra “Landmark”, por “RULE” ou seja “REGRA”.
         Vejamos como a maioria dos autores maçônicos se expressa sobre os Landmarques:
         Albert G. Mackey - “Há diversidade de opiniões entre os tratadistas a respeito da natureza dos antigos landmarques da Maçonaria: porém o melhor método será limitá-los aos antigos e universais costumes da Ordem que acabaram por concretizar-se em regras de ação, ou que se articularam em leis por alguma autoridade competente, e o seria em tempo tão remoto que não deixou sinal na história.” (Jurisprudence of Freemasonry, e apresenta sua relação com 25 landmarques)
         Albert Pike - “Os princípios fundamentais da antiga Maçonaria Operativa eram poucos e simples e não se chamavam Landmarques.” (Atas da Veterana Associação Maçônica, transcritas por T. S. Parvin, onde critica Mackey e no final relaciona 5)
         Bernard E. Jones - “Seria impossível, portanto, alguém dogmatizar em matéria em que a  Grande Loja (a da Inglaterra) não fez qualquer pronunciamento, e em que os Maçons com experiência não podem concordar. Infelizmente existe a tendência de se usar a palavra “landmark” como um substantivo conveniente para descrever algo que não tem significado definido.” (Freemasons Guide and Compendium).
         George Oliver, Rev. - “A respeito dos landmarques da Maçonaria, alguns se limitam aos sinais, toques e palavras. Outros incluem as cerimônias de iniciação e exaltação; os ornamentos, paramentos e jóias da Loja ou seus símbolos característicos. Outros opinam que a Ordem não tem outros landmarques além de seus segredos peculiares.” (Dictionary of Symbolic Masonry e apresenta sua relação com 31).
         H. G. Grant - “Não pode considerar-se landmarque da Maçonaria o que não está estabelecido pelos escritos de nossos pais ou reconhecidas autoridades como regra ou crença dos Franco-maçons em 1723, ou antes, ou que não esteja aceita como marca.” (Ancient Landmarks with suporting evidence, e apresenta sua relação com 54)
               
John W. Simons - “Consideramos como marcas os princípios de ação que identificam com a forma e essência da Maçonaria, e, que a grande maioria aceita, são invariáveis e todos os maçons estão obrigados a manter intactos, sob pena de irrevogáveis sanções.” (Principles of Masonic Jurisprudence, mas apresenta sua relação de 15)
         Josiah Drummond - “Tudo quanto podemos saber é que são leis e costumes existentes desde tempo imemorial. Se há algum uso universal de origem desconhecida, é um landmarque.” (Maine Masonic Text Book)
         Jules Boucher - “Na Maçonaria francesa, a “Liberdade de Pensamento” é um “landmark” fundamental e, paradoxalmente, este “landmark” não tem limites!” (“La Symbolique Maçonnique”, pg. 217)
Luke A. Lockwood - “Os landmarks da Maçonaria são aqueles antigos princípios e práticas que assinalam e distinguem a Maçonaria como tal, e são fonte de jurisprudência Maçônica.” ( Masonic Law and Practice, apresentando 19 Landmarques)
         Oswald Wirth - “Os landmarks são de invenção moderna e seus partidários jamais conseguiram se por de acordo para fixá-los. Isso não impede que os anglo-saxões proclamem sagrados esses limites essencialmente flutuantes, que ajustam de acordo com seus particularismos. Cada Grande Loja fixa-os de acordo com seu modo de compreender a Maçonaria; a maçonaria é compreendida de modos muitos diferentes, razão das definições contraditórias, destrutivas da unidade dentro de uma instituição que visa à concórdia universal.” (Qui est Régulier)
         Robert Morris - “Os dogmas invariáveis que a assinalam dão a conhecer e mantêm os limites da Francomaçonaria.” (Dictionary of Freemasonry e relaciona 17)
W. B. Hextal - “Os antigos landmarques da Francomaçonaria, como todo outro landmarque material ou simbólico, só se podem manter estáveis quando se apóiam em seguros fundamentos. Ao se aprofundar o filósofo sobre a pedra em que descansem descobre que o nosso seguro fundamento é o trino dogma da fraternidade de Deus, a fraternidade dos homens e a vida futura. Todas as leis, usos, costumes e métodos que não se apóiem neste dogma básico, serão convenções ou acomodações, porém de modo algum participarão da natureza dos antigos landmarques.”  (Ars Quattuor Coronati, volume XXV)
         Entre os brasileiros nós podemos citar:
         Henrique Valadares ( Cayru ) - “Os landmarques delimitam o que é Maçonaria e o que não é Maçonaria: o que estiver nos landmarques, ou dentro deles, é Maçonaria regular; o que estiver fora dos landmarques não é Maçonaria ou é Maçonaria espúria. São os “limites”. O Livro das Constituições de Anderson refere-se aos “antigos Landmarques”, que devem ser “respeitados cuidadosamente”.
         “Para que uma regra ou norma seja considerada landmarque tem que reunir em si vários requisitos:
         a) antigüidade, isto é, deve existir desde um tempo imemorial. Por isso, se hoje as Autoridades maçônicas pudessem reunir-se e decretar uma lei universal, esta não seria absolutamente um landmarque.
         b) espontaneidade e generalidade, isto é, o landmarque não tem autor conhecido, não se origina de nenhuma autoridade pessoal, só é landmarque todo uso universal, de origem desconhecida.
         c) invariabilidade e irrevogabilidade, isto é, todo landmarque é inalterável.”
(O Aprendiz-Maçom)
        
Nicola Aslan - “Evidentemente, o problema dos Landmarques continuará sem solução possível, e de nada irá adiantar a melhor definição ou a melhor compilação apresentada, porque sempre será um trabalho estabelecido sobre a areia. Como já tivemos oportunidade de dizer para nós, os Landmarques, e particularmente os de Mackey, que obtiveram o maior sucesso, representam, ou para melhor dizer, pretenderam representar dentro da Maçonaria o mesmo papel que as Falsas Decretais desempenharam, outrora, dentro da Igreja Católica.” (Landmarques e outros problemas Maçônicos)
         Vanildo de Senna - “Os Landmarques, na verdade, constituem atualmente, problema de difícil solução. Tratadistas, jurisconsultos e todos quanto deles se ocuparam jamais puderam chegar a um acordo no sentido de defini-los, enumerá-los, classificá-los e interpretá-los.”(Landmarques - Tese, Antítese e Síntese)
         Se formos verificar a relação dos Landmarques existentes observaremos a diversidade dos mesmos, quase todos levantados por Virgílio A. Lasca e alguns por nós constatados:
         São somente 3 para Alexandre S. Bacon e Chetwood Crawley;
         5 para Albert Pike , aceitos por Morivalde Calvet Fagundes e José Castellani;
         6 para Jean Pierre Berthelon e para a Grande Loja de Nova York, tomando por base os capítulos em que se dividem as Constituições de Anderson.
         7 para Roscoe Pound e o cubano Carlos f. Betancourt, adotados pela Grande Loja de Virgínia;
         8 para a Grande Loja de Massachusetts, repetindo a relação de Mackey, apenas diminuindo-lhe a numeração;
         9 para J. G. Findel, aceitos pelo Rito Moderno;
         10 para a Grande Loja de Nova Jersey;
         12 para A. S. MacBride;
         14 para Joaquim Gervásio de Figueiredo;
         15 para John W. Simons adotados pela Grande Loja de Tennessee;
         17 para Robert Morris;
         19 para Luke A. Lockwood adotados pela Grande Loja de Connecticut;
         20 para a Grande Loja Ocidental da Colômbia;
         23 para a Grande Loja de Louisiana;
25 para Albert G. Mackey e Chalmers I. Paton, aceitos pelas Grandes Lojas Brasileiras;
         26 para a Grande Loja de Minnesota;
         29 para Henri A. Lecerff;
31 para o Rev.  George Oliver;
         54 para H. G. Grant adotados pela Grande Loja de Kentucky.

         Por seu lado, a Grande Loja Unida da Inglaterra, embora não chame de Landmarque, fixa 8 condições sem as quais não reconhece um outro Corpo Maçônico.
         Como vemos cada Grande Loja adota uma compilação, e cada estudioso do assunto acrescenta mais uma.
         Não cansaremos os leitores com a transcrição de todas elas, nos restringiremos a citar textualmente a de Findel, que é aceita pela maioria das Lojas do Rito Moderno, embora também se possa fazer ressalvas sobre alguns deles, e comentaremos item por item a de Mackey, endeusada pela maioria dos Maçons brasileiros, inclusive faltando com a verdade ou a transcrevendo ora com a supressão, ora alterando-lhe o conteúdo, com a intenção de não ferir susceptibilidade de alguns ou de conseguir mais adeptos.

Compilação de Findel

1.- A obrigação de cada Maçom professar a religião universal em que todos os homens de bem concordam. (Praticamente transcrevendo as Constituições de Anderson)
    “Um Maçom está obrigado, por sua condição, a obedecer à Lei Moral, e se compreende bem a Arte, não será jamais em um estúpido Ateu nem um Libertino irreligioso. Mas se bem que nos Tempos antigos fossem obrigados em cada País a ser da Religião, qualquer que fosse, desse País ou dessa Nação, contudo é considerado mais conveniente de somente os sujeitar àquela Religião sobre a qual todos os Homens estão de acordo, deixando a cada um suas próprias  Opiniões, isto é, serem  Homens de bem e leais, ou Homens de Honra e de Probidade, quaisquer que sejam as Denominações ou Confissões que os possam distinguir; pelo que a Maçonaria se torna o Centro de União, e o Meio de firmar uma Amizade entre Pessoas que teriam ficado perpetuamente Distanciadas.”
2.- Não existem na Ordem diferenças de nascimento, raça, cor, nacionalidade, credo religioso ou político.
3.- Cada Iniciado torna-se membro da Fraternidade Universal, com pleno direito de visitar outras Lojas.
4.- Para ser Iniciado é necessário ser homem livre e de bons costumes, ter liberdade espiritual, cultura geral e ser maior de idade.
5.- A igualdade dos Maçons em Loja.
6.- A obrigatoriedade de solucionar todas as divergências entre os Maçons dentro da Fraternidade. (Como eu gostaria que isso se tornasse realidade.....)
7.- Os mandamentos da concórdia, amor fraternal e tolerância; proibição de levar para a Ordem discussões sobre assuntos de religião e política.
8.- O sigilo sobre os assuntos ritualísticos e os conhecimentos havidos na Iniciação.
9.- O direito de cada Maçom colaborar na legislação maçônica, o direito de voto e o de ser representado no Alto Corpo.

                                               Classificação de Mackey

1.- Os meios de reconhecimento.
         Ora, os modos de reconhecimento na maçonaria nem sempre foram os mesmos. A princípio todos os sinais eram dados assim que os Aprendizes eram iniciados. As palavras de passe e sagrada são diferentes nos diferentes Ritos. A palavra que substituiu a palavra perdida é diferente nos diversos ritos, e os sinais e toque também o são. Portanto a existência dos meios de reconhecimento são um landmarque, mas não cada um deles em si. Alguns mudaram desde a fundação do Rito até os dias atuais.

2.- A divisão da Maçonaria em 3 graus.
         Sabemos que antes de 1717, quando da fundação da primeira Grande Loja, só havia dois graus na Maçonaria. O grau de Mestre só foi criado em 1725 e institucionalizado em 1738, e considerado regra pela Grande Loja em 1813. Se um landmarque deve ser imemorial, este não poderia ser um.


3.- A Lenda do 3º Grau.
         Somente após a criação do grau de Mestre é que foi criada esta Lenda. Portanto não é imemorial. E, outra, o Herói da Lenda é diferente nos Ritos Hiramitas e Adonhiramitas. A estrutura da Lenda também. Uma lenda egípcia adaptada à Bíblia judaico-cristã.
4.-     O governo da Fraternidade deve ser exercido por um Oficial denominado Grão Mestre, eleito por todo o povo Maçônico.
         A criação do cargo de Grão Mestre de uma Potência, conforme entendemos hoje, só foi acontecer após a fundação da Grande Loja da Inglaterra. Anteriormente, o nome Grão Mestre era também utilizado para Veneráveis de Lojas, e não de toda a Fraternidade.

5.- A prerrogativa do Grão Mestre de presidir toda reunião maçônica, onde e quando se realize.
         A objeção é mesma que a anterior, só depois da criação de um Alto Corpo, reunindo maçons de todas as Lojas é que houve o que seria o cargo atual de Grão Mestre.

6.- A prerrogativa do Grão Mestre de conceder licença de conferir graus em tempo anormais, com dispensa dos prazos.
         Repetimos a mesma alegação dos anteriores itens.

7.- A prerrogativa que tem o Grão Mestre de autorizar fundação e manutenção de Lojas Maçônicas.
         Anteriormente, as Lojas eram fundadas por decisão dos Maçons, sem influência estranha. Era o lema “Maçom livre em Loja livre”. A prática das Cartas Constitutivas é recente.

8.- A prerrogativa do Grão Mestre de “fazer maçons à vista”, ou seja, reunindo determinado número de Irmãos poder iniciar sem que sejam necessárias sindicâncias, provas ou o que mais seja da iniciação.
         Isso já foi feito no Brasil, infelizmente, com drásticas conseqüências.
         Como se vê, os chamados landmarques, do 4º ao 8º, são regras que cabem mais num estatuto, numa constituição, podendo ser alterados por decisão do povo Maçônico, como já o foram.

9.- A necessidade dos Maçons de se congregarem em Loja.
         Finalmente, encontramos uma afirmativa que efetivamente é um “landmark”, na concepção de seus definidores. Desde que concebeu a Maçonaria os seus membros se reúnem em organismos denominados Lojas.

10.- O governo da Fraternidade, quando reunida em Loja, deve ser exercido por um Venerável e dois Vigilantes.
         Este é efetivamente um landmarque, pois desde tempos imemoriais, mesmo quando não havia os graus, as Lojas eram presididas por um Presidente (Mestre da Loja) e dois Vice-Presidentes (Senior Warden e Junior Warden) , escolhidos entre seus membros.

11.- A necessidade de uma Loja, quando reunida, estar resguardada ou coberta.
O sigilo maçônico assim o exige, eis outra regra definitiva.

12.- O direito de todo Maçom se fazer representar nas reuniões gerais da Fraternidade, e de instruir seus representantes.
         Anteriormente os Maçons (aprendizes ou companheiros) compareciam pessoalmente às reuniões do povo Maçônico, mas não podiam ser representados. O direito de representação foi criado posteriormente, e é diferente conforme a legislação da Obediência, quer seja Grande Loja ou Grande Oriente. Em uma os representantes são o Venerável e os Vigilantes, e no outro é o deputado.

13.- O direito de recurso de cada Maçom perante a Grande Loja ou Assembléia Geral.
         Nos primórdios da Maçonaria Especulativa não existia esse direito de recorrer da decisão de uma Loja a que pertencesse o Maçom, pois a Loja era livre e não filiada a nenhum Alto Corpo. E, atualmente, por exemplo, tanto nos Grandes Orientes como nas Grandes Lojas existem órgãos judiciários específicos para decidir recurso de Maçom.

14.- O direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja.
         Tentem visitar uma Loja inglesa. Antes do atual Tratado da Grande Loja com o Grande Oriente houve Irmãos barrados em Loja da Grande Loja.  E, por outro lado, qualquer membro de uma Loja pode vetar a entrada de um visitante. A regra citada deveria ser válida, mas infelizmente não o é.

15.- Nenhum visitante, desconhecido dos Irmãos de uma Loja, pode ser admitido à visita, sem que, antes de tudo, seja examinado, conforme os antigos costumes.
         Seria no caso o inverso do landmarque anterior, no entanto, como a maioria não conhece os toques, os sinais e as palavras de outros Ritos, é de fato não cumprido. Já ouvi Vigilante dizer que “batem irregularmente à porta do templo”, quando ouve as baterias de outro  Rito  que não o seu.

16.- Nenhuma Loja pode intrometer-se em assuntos que digam a outra, nem conferir graus a Irmãos de outros quadros.
         Em tese, é verdadeiro, no entanto, um visitante pode votar contra o ingresso de um profano em uma Loja, o que é uma certa forma  de se imiscuir em assuntos de outra, e isto jamais foi proibido nem poderia sê-lo. Quanto a conferir graus, pode, desde que por delegação da Loja de origem do Irmão.

17.- Todo Maçom está sujeito às leis e aos regulamentos da Jurisdição Maçônica em que reside, mesmo não sendo membro de qualquer Loja.
         Outra afirmação que, em tese, é de aceitar, posto que não se filiar já seria uma infração maçônica, no entanto, a residência temporária está sendo considerada? Poderia a Obediência regional obrigar o Maçom designado a prestar serviços por tempo determinado em outro país, ou região, a filiar-se à sua Jurisdição sob a ameaça de infringir um landmarque?

18.- Todo candidato à iniciação deve ser homem livre de nascimento, não mutilado ou isento de defeitos físicos e maior de idade.
             Que maioridade? Civil, eleitoral ou criminal? Os lowtons, em nossa legislação, têm direitos especiais quanto à idade.
        O escravo liberto ou o filho de escravo não poderia ser iniciado? No Brasil o foram.
         Quando se impunha a iniciação apenas dos homens as mulheres eram submissas, em todo sentido. O são agora? Atualmente, há algumas que são mais livres que alguns homens. E mais capazes.
         È bom citar o que constava no Poema Régio ou Manuscrito Régio ou ainda Manuscrito Halliwell, de 1390, um dos primeiros documentos da Maçonaria Operativa senão o primeiro conhecido, em seu preâmbulo onde vemos: “Pois assim cada um poderia ensinar ao outro e amar-se mutuamente como Irmão e Irmã”, e no seu artigo X consta “Nenhum Mestre deve suplantar outro Mas ficar juntos como Irmão e Irmã”. Nada faz crer ou admitir que o termo Irmã não se referisse a presença da mulher, portanto a proibição é recente.
         A higidez exigida é efetivamente total, no entanto, conhecemos diversos Irmãos mutilados; já soubemos de casos históricos de cegos iniciados, a própria Constituição exige, atualmente, que a higidez lhe dê condições de praticar todos os atos ritualísticos. Seria essa exigência atual? E o avanço no campo das próteses? Permanece este landmarque por séculos, como, infelizmente, se exige.

19.- Que todo Maçom deve crer na existência de Deus como Grande Arquiteto do Universo.
         Não seria a exigência um dogma, que fere os princípios Maçônicos? A Maçonaria tem princípios, não dogmas. Anderson falava em religião universal, não definia no que deve crer. A Grande Loja Unida da Inglaterra chega a exigir uma religião monoteísta, como ficariam os panteístas e os politeístas, de diversas facções. Eles são religiosos. Houve época em que algumas Lojas exigiam a crença no dogma da Trindade. Quando se pretendeu fixar esta afirmativa como landmarque, sequer se conheciam todos os tipos de crenças existentes no planeta. Só é permitido ser Maçom se for de origem judaico-muçulmano-cristão? Onde a liberdade de crença? Onde a exclusão do preconceito religioso?
         Melhor seria falarmos na crença, na aceitação de um Princípio Criador, que abrangeria melhor todas as possíveis formas de credos, conforme consta da Constituição do Grande Oriente do Brasil.

20.- Subsidiária à crença em Deus, a crença em uma vida futura e na imortalidade da alma.
         Vemos que alguns landmarques, como o de Pound, que prefere falar em “imutação da personalidade”, no lugar de imortalidade.
         A maior parte dos autores brasileiros (por má fé?) esconde que Mackey cita a crença na ressurreição, que fere grande parte dos maçons brasileiros, que crêem na reencarnação e não na ressurreição. Toda afirmativa dogmática colocada como landmarque é um perigo para a liberdade de pensamento, fundamento da Ordem.
         Vejamos o que diz o texto em inglês do Landmarque coligido por Mackey: “is the belief in a resurrection to a future life.” E mais adiante: “To believe in Masonry, and not to believe in a resurrection, would be an absurd anomaly.” Como é que ficam os Maçons não reencarnacionistas?

21.- A existência do “Livro da Lei”, como ornamento indispensável em uma Loja.
         Em primeiro lugar, há de se observar que não existia antigamente a exigência de qualquer livro, religioso ou não, como ornamento das Lojas, basta consultar nos diversos rituais antigos a inexistência do livro no compromisso dos iniciados. Os autores brasileiros exageram, ainda mais, dizendo que o landmarque fala em “livro da lei que deve conter a verdade revelada pelo Grande Arquiteto do Universo”; e algumas Grandes Lojas, ainda, citam especificamente a Bíblia. Ora, onde a liberdade religiosa? Onde a liberdade de pensamento?
Fala Mackey em religião do país, é incrível depois das Constituições de Anderson falar-se que deve ter a religião do país. Ninguém pode ter outra religião senão a religião da maioria??!! Eis o que diz Mackey: “The ‘Book of de Law’ is that volume which, by the religion  of the country”.
Falar em Velho Testamento (Old Testament) para os judeus? O livro sagrado do Judaísmo não é todo o Velho Testamento, mas apenas o Pentateuco  ou Torá. No Brasil nós temos religiões (não só no Brasil), que não têm livro sagrado, pois toda tradição religiosa é oral (Candomblé, Umbanda, Pajelança, etc.). Quem não entende de outra religião senão a sua, quando entende; quem nunca estudou outras religiões, como pode falar desta ou daquela religião?
Nós mantemos presente um Livro Sagrado em virtude do Tratado que existe com a Grande Loja Unida da Inglaterra. Diz o item 5 dos seus 8 pontos: “All Freemasons under its jurisdiction must take their obligations on or in full view of the Volume of the Sacred Law (i.e. the Bible) or the book held sacred by the man concerned”, portanto o compromisso não é feito obrigatoriamente sobre o Livro da Lei Sagrada, basta que ele esteja presente.

22.- Que todos os homens são iguais perante Deus e que na Loja se encontram no mesmo nível.
         Em primeiro lugar, muda-se a redação de Mackey, que diz simplesmente a igualdade de todos os Maçons.  Diz ele: “THE EQUALITY OF ALL MASONS is another Landmark of the Order.”
         Mas não há dúvida que a igualdade dos Maçons em Loja é um landmarque, desde que obedecida a hierarquia e os graus, portanto a igualdade não é tão absoluta. A grande verdade é que o Maçom não goza dos privilégios e prerrogativas que possam gozar no mundo profano.

23.- Que a Maçonaria é uma sociedade secreta de posse de segredos que não podem ser divulgados.
         Por que será que nossos Irmãos alteram a redação dos landmarques de Mackey, será que é porque não podem sustentá-los na forma que são, mas pretendem endeusá-los? Na tradução da Grande Loja de Sergipe consta o termo correto.
         Ora, a Maçonaria não é uma sociedade secreta, só o sendo nos países onde a liberdade de associação não é permitida. Nem em Cuba comunista.
         Ela tem seus estatutos registrados e sede conhecida.  Ela é, isto sim, uma sociedade sigilosa, que tem seus segredos, como muitas outras sociedades civis e religiosas. O que existe na Maçonaria é o sigilo que seus membros devem guardar dos conhecimentos havidos pela iniciação
Se segredo existe é aquilo que é tratado dentro de Loja, o, que infelizmente não acontece.

24.- A Maçonaria consiste em uma ciência especulativa fundada numa arte operativa.
         Definir a Maçonaria como ciência é absolutamente anticientífico, em nenhum conceito de ciência cabe admitir a Maçonaria como uma delas. A Maçonaria incentiva o estudo da ciência, incentiva a prática das artes, mas não é nenhuma nem outra. A afirmativa não é um landmarque, e ainda mais, é uma inverdade.

25.- Os landmarques da Maçonaria são inalteráveis. ”Nolumus legen mutari”
         É muita veleidade, no mínimo, afirmar que os landmarques que Mackey relaciona são inalteráveis. Não há dúvida que devem existir princípios fundamentais (e existem), mas relacioná-los, afirmá-los como verdadeiros, porque por si escolhidos, é pretender se tornar um Papa da Ordem.
         Alguns Irmãos chegam à infantilidade de faltar com a verdade na defesa desses landmarques, como nosso querido Irmão Rizzardo da Camino, quando afirma: “Coube a Inglaterra reunir esses landmarques e apresentá-los à maçonaria moderna...” e cita os landmarques de Mackey. Ora, a Inglaterra, tanto no tempo, da Grande Loja da Inglaterra e Grande Loja de York, como depois da união, formando em 1813 a Grande Loja Unida da Inglaterra, nunca fixou ou compilou uma relação como verdadeira, como legítima. Ela considera que os Antigos Deveres contidos nas Constituições de Anderson, em sua primeira edição, alterada posteriormente por ela, são a lei fundamental onde constam os princípios vitais da Maçonaria Moderna.
O que Inglaterra fez foi listar “oito pontos”, que exige de outras Obediências para reconhecê-las como Corpo Maçônico regular.
         Nos Estados Unidos, onde existem os maiores defensores dos landmarques, é onde existe a maior variedade de relações e compilações, cada Grande Loja lista os seus e os considera como os verdadeiros e inalteráveis.
         Os landmarques relacionados por Mackey tiveram como um de seus maiores críticos Albert Pike, que foi Soberano Grande Comendador da Jurisdição Sul do Rito Escocês Antigo e Aceito nos Estados Unidos, do qual Mackey foi Grande Secretário Geral. 
         No Brasil, chegou a constar da Constituição dos Grandes Orientes. Felizmente, quando estávamos no Grande Oriente de São Paulo, dissidente, atual Grande Oriente Paulista, em 1982, conseguimos excluí-lo. E, no Grande Oriente do Brasil foi escoimado de sua Constituição em sua última reforma, em 1991, onde consta atualmente a exigência dos landmarques, mas sem citar qualquer deles, ficando a cargo da Loja ou do Rito escolher qual deles adotar.
         Efetivamente, o problema dos landmarques é insolúvel, porque a maioria pretende tornar a Maçonaria, a seu modo, num grupo dogmático em que só a sua vontade seja válida, pretende infirmar princípios fundamentais na Maçonaria que são a Busca Constante da Verdade, a Liberdade Absoluta de Pensamento, a Liberdade Absoluta de Consciência.                                    
                                                                 
Antonio Onías Neto, Vª Ordem, Gr.·.9
 M.·. I.·.
Grande Inspetor do Rito Moderno o Francês  
Past Soberano Grande Inspetor Geral
Supremo Conselho do Rito Moderno - Brasil

El nacimiento del Grande Oriente Lusitano: Hipólito José da Costa

Este trabajo ofrecido fraternalmente por el Prof. Manuel Pinto dos Santos. Hipólito José da Costa. Uma Vida dedicada à Maçonaria, Grémio Lusitano, 2014, 68 p. quiere ser, además de portador del conocimiento contenido en éste, un reconocimiento al gran masón y amigo, el QH Luis Cardoso, gran investigador y de una generosidad infinita para con sus colegas y Hermanos de estudio masonológico que prematuramente pasó al Oriente eterno dejándonos en un estado de profunda consternación y duelo. Pero con el paso del tiempo, Luis permanece entre nosotros cada vez que nos adentramos en la historia de la francmasonería portuguesa donde él con su ejemplo ocupa un lugar de honor y privilegio. Gracias Q.·. H.·. Luis.

El Trabajo, tras mis diversas consultas al M.·. Il.·. H.·. Cardoso, Manuel Pinto dos Santos me lo hace llegar a través de él en un derroche también de fraterna colaboración académica. Y este es el trabajo que publico en su versión original y en la lengua en la que fue escrito. Una joya masonológica  para los amantes del estudio de la historia en nuestra Orden.

MQI Luis Cardoso

Envio-te o texto que escrevi sobre o Hipólito, na parte que diz respeito ao tratado, sem prejuízo de te enviar o exemplar prometido e que só está à venda no Museu Maçónico Português, no GOL.

Como podes ver, o documento original estava no processo nº 16809 de Joaquim José Vieira Couto, - que também tenho transcrito na sua íntegra, com notas e comentários - a fls. 27, mas que desapareceu do ANTTombo, Só resta a cópia notarial que transcrevo aqui e que se encontra a fls. 206. do processo 17981 do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa contra Hipólito José da Costa

Boa leitura, e se quiseres divulgar estás à vontade, desde que cites a origem: Manuel Pinto dos Santos. Hipólito José da Costa. Uma Vida dedicada à Maçonaria, Grémio Lusitano, 2014, 68 p.

……………

“Ligado à instituição maçónica portuguesa, o nome de Hipólito – que tinha o nome simbólico de Aristides - aparece no quadro do Capítulo dos Cavaleiros da Espada ou do Oriente de Lisboa1, fundado aparentemente em 1802, sendo seu secretário o próprio Hipólito. Todavia, ignora-se a que loja simbólica pertencia.

Terá sido nesta loja capitular que se engendraram os passos seguintes destinados à unificação das lojas maçónicas sob uma mesma

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1 A.H. de Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, volume I, Das Origens ao Triunfo, Editoria Presença, Lisboa, 1990, p. 166-67.


obediência, quer porque a Loja Cavaleiros da Espada2, denominada pela inquisição de Supremo Conselho, tinha passado uma procuração a favor de Hipólito3 quer porque Hipólito escreveu duas cartas datadas de 27.04.1802 e de 04.05.1802 para esta loja capitular4, antes de ser concretizado o tratado com a Grand Lodge of England.

Estrategicamente, uma aliança com a maçonaria de Inglaterra - velha aliada e protectora da Coroa portuguesa, além de ser um parceiro económico – parecia mais interessar aos maçons portugueses do que uma aliança com a maçonaria francesa, à qual se atribuía tendências revolucionárias, jacobinas, destruidoras da monarquia e do altar. O Duque de Sussex, enquanto irmão de George, regente desde 1810 e futuro rei George IV de Inglaterra a partir de 1820, protector da maçonaria da Grand Lodge of England desde 1791, surgia como uma excelente carta no jogo da regularização e do apoio dos maçons portugueses.

Consequentemente, o Duque de Sussex veio na realidade, a intermediar o contacto entre maçons portugueses e a Grand Lodge of England, no sentido de receberem representantes da maçonaria portuguesa.

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2Este Capítulo dos Cavaleiros do Oriente, também designado por Supremo Conselho dos Cavaleiros da Espada Lusitano, era constituído por membros detentores do 11º grau (Cavaleiro do Oriente) do rito adoniramita, proveniente de França. O rito francês ou moderno, tinha igualmente o grau 6º, ou 3ª ordem (Cavaleiro do Oriente) mas a documentação aponta para uma loja capitular composta por maçons do rito adoniramita, mais divulgado em Portugal na época do que o rito francês ou moderno.

3Processo da Inquisição de Hipólito José da Costa, a fls. 203vº-204. O original constava do mesmo processo a fls. 64.

4 Processo da Inquisição de Hipólito José da Costa, sessão de interrogatório de 12.09.1803, p. 186.


O facto de, em Abril de 1802, Hipólito ir desempenhar certas tarefas em Londres5, por incumbência do ministro Sousa Coutinho – aquisição de livros para a Real Biblioteca, bem como material e máquinas para a Imprensa Régia, aliado ao facto de Hipólito se encarregar nessa altura de contactos com a Grand Lodge of England, permitiu a Pina Manique que pudesse actuar não só contra Hipólito, mas principalmente contra Sousa Coutinho, a fim de o desacreditar como maçon junto da Coroa através da difusão do boato que o primeiro teria ido a Londres a mandado do Ministro, boato que desagradou a este.

Para a intendência da polícia, Sousa Coutinho já teria sido identificado como maçon de tendência jacobina, segundo a marquesa de Alorna6, o que era falso.

Em Londres, Hipólito além de frequentar lojas maçónicas durante a sua estadia – o que negou perante a Inquisição -, fomentou o estabelecimento de relações maçónicas com a Grand Lodge of England, procurando obter o reconhecimento das lojas portuguesas que viviam na clandestinidade junto desta.


5 No interrogatório da Inquisição prestado em 04.02.1803, Hipólito responde “que pelo tempo do entrudo, ou princípios da Quaresma do ano pretérito de1802 fiz uma viagem a Londres por interesses próprios, e daquela Corte passara à de Paris pelos Países Baixos Franceses e se recolheu pela Normandia a Londres e desta a Portugal, onde chegou no mês de Julho passado, puco mais ou menos”, fls. 147vº e 148. Não houve esclarecimentos sobre quais eram os “interesses próprios”.

6A Marquesa de Alorna, num rascunho de uma carta não datada que pretendia dirigir ao Príncipe Regente apontava que “os dois fogos em que V. A. R. se vê, entre França e Inglaterra, assaz lhe manifestam se ganhou mais em seguir a política frouxa desse triunvirato que envileceu e arruinou Portugal...”carta esta que foi apreendida pela polícia do Intendente Pina Manique. A Marquesa referia-se a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Luís Pinto de Sousa Coutinho e D. João Manuel de Melo e Castro, os quais identifica como “Franc-mações” da tendência jacobina francesa, que ela pretendia combater, mais propriamente na pessoa de Napoleão Bonaparte. In Marquesa de Alorna, Inéditos, Cartas e Outros Escritos, selecção, prefácio e notas do Prof. Hernâni Cidade, Livraria Sá da Costa, Editora, Lisboa, 1941, p. 179.


Efectivamente, na sua missão a Londres no primeiro semestre de 1802, Hipólito apresentou-se como o representante de quatro lojas em Portugal, em busca de uma carta patente inglesa para poder formar uma obediência em Portugal. Que lojas eram estas ? Em 1802 de acordo com os registos da Inquisição7 havia seis lojas em Lisboa: União8, Virtude9, Fortaleza10, Concórdia11, Amizade12 e Razão13. As lojas que pediram a adesão à Grande Loja de Inglaterra foram a União, a Concórdia, a Razão e a Virtude, constituídas aproximadamente entre 1798 e 1801, sendo certo que estas lojas que Hipólito representaria, integrariam o modelo britânico e jamais o jacobino ou afrancesado.

Cronologicamente, e segundo as conclusões do processo da inquisição, Hipólito terá chegado a Londres a 27.03.1802 e “logo nos dias


7 Processo da Inquisição de Hipólito José da Costa, sessão de interrogatório de 12.09.1803, fls. 189 e 204.

8 A loja União nº 1 de Lisboa, terá sido formada por volta de 1798, sendo conhecidos três membros.

9 Trata-se da Loja Virtude (II) em Lisboa presumivelmente fundada em 1798 e que suspendeu os trabalhos em 1808, retomando-os um ano depois. Do quadro desta loja foi admitida em 1814 a Condessa de Juromenha, amante do General Beresford, a primeira mulher a ser admitida na maçonaria portuguesa.

10 Presume-se que a data de fundação da loja Fortaleza foi cerca de 1800 e terá trabalhado até 1808. Ao quadro pertenceram o poeta Bocage, José Liberato Freire de Carvalho, com o nome simbólico de Spartacus, e José Fragoso Wanzeller que seria Grão-mestre do GOL em 1810, tendo ambos ajudado Hipólito na sua fuga da prisão. A proximidade destes poderá sugerir, como mera hipótese, que Hipólito terá ingressado nesta loja, quando regressou da América.

11 Fundada em 1801 a loja Concórdia trabalhou até 1808, retomando os trabalhos até 1817. Conhecem-se poucos membros.

12 Fundada presumivelmente em 1801, trabalhou até 1808, retomando por várias vezes os trabalhos até 1817, quando se extinguiu. Tinha várias dezenas de membros.

13 Presume-se a sua fundação em 1801, mas a loja Razão trabalhou até 1803.


30 e 31 do mesmo e dias 3, 5 e seg.tes de Abril começara... a tratar eficaz.te a Comissão em Maçónica em Inglez e Cifra14.

As negociações com a Grand Lodge of London terminariam em 18.05.1802, data em que foi firmado o acordo a seguir transcrito:

[1802 - Acordo entre a Grand Lodge of England (Moderns) e quatro lojas de Portugal] 15

A Todos e cada hum dos nossos Venerabilíssimos e amados I.·..


Nós Francisco Rawdon Hastings16, Conde de Moira, etc., etc. Lugar Tenente do G.·.=M.·.= debaixo da Autoridade de S.·.A.·.R.·., Jorge Príncipe de Gales, etc., etc., etc. = G.·.M.·. da muito Antiga e Honrada Sociedade dos Livres, e Aceitos M.·.= Saúde = Tendo-se Representado a Suprema G.·.= L.·. dos Livres e Aceitos M.·. de Inglaterra, pelo muito respeitável I.·. Hipólito José da Costa que quatro lojas regulares dos Livres e Aceitos M.·. em Portugal, a saber a L.·. da União.·., a L.·. da Concórdia, a L.·. da Razão e a L.·. da Virtude tinham eleito Representantes para estabelecer em Portugal uma G.·. L.·. Nacional e para abrir comunicação com as outras G.·. L.·., e que achando-se os ditos Representantes, que formão um Maçónico Governo Provisional em nome das ditas L.·., desejosos de comunicar as suas louváveis intenções à Suprema


14 Processo de Hipólito José da Costa, fl. 204vº.

15 Extraído do processo da Inquisição 16.809 contra José Joaquim Vieira Couto, fl.

27. Trata-se de uma cópia certificada por Manuel de Figueiredo Ribeiro Martins, Notário do Santo Oficio da Inquisição. Sobre as siglas no documento segue o seu esclarecimento: I.·.- Irmãos; G.·.M.·.- Grão-Mestre; S.·.A.·.R.·.- Sua Alteza Real; ;G.·. L.·.- Grande Loja; M.·.- Maçons; L.·. - Loja; G.·. - Grande; AL.·.- Anno Lucis [Ano da Luz] AD.·. Anno Domini [Ano do Senhor].

 

16 Francis Rawdon-Hastings, (1754 - 1826) 1º Marquês de Hastings, Conde de Moira, militar e político britânico, Governador-Geral da Índia (1813- 1823). Representou o Grão mestre da Grande Loja de Inglaterra (corrente dos “Modernos”) entre 1790 e 1812.



G.·. L.·. de Inglaterra, e de estabelecer uma amigável e Maçónica Comunicação com a sobredita G.·. L.·., para isso elegeram, e mandaram a Londres dpropósito, para este fim ao dito mui Respeitável I.·. como seu Plenipotenciário, o qual tendo comunicado os seus plenos Poderes aos Principais Oficiais da G.·. L.·.; e sendo estes Poderes fundados em boas e amplas formas, foi Reconhecido e Recebido como tal. E Sua Alteza Real, Jorge, Príncipe de Gales Venerabilíssimo G.·.M.·. e o muito honrado Francisco Conde de Moira; lugar Tenente do G.·. M.·. tendo aprovado a proposta do dito Governo Provisional dos M.·. Portugueses tendente a uma fraternal e Maçónica comunicação com a  G.·. L.·. e com o resto dos seus Grandes Oficiais, e Membros, sendo todos eles juntos em Sessão de G.·. L.·. aos doze de Maio corrente e tendo dado o seu inteiro consentimento à dita Proposta Fazem saber que a Suprema G.·. L.·. de Inglaterra, situada em Londres, influída por princípios puramente Maçónicos, e benéficos e desejosa de animar e de promover a disseminação da antiga Maçonaria, para beneficio e felicidade do Género humano, e querendo deferir à Súplica do Provisional Governo Maçónico das L de Portugal comunicada pelo dito seu Plenipotenciário em demonstração de especial favor, e de Fraternal Benevolência, se acordou em receber qualquer Respeitável e acreditado I.·., como Representante das L.·.  de Portugal na G.·.  L.·. de Inglaterra, e igualmente em declarar que qualquer I.·. das L.·. de Portugal tem direito de visitar as L.·. Inglesas, conforme as particulares Leis existentes em cada uma, e finalmente em conceder socorro pecuniário a qualquer I.·. de bons costumes, que se achar em aflição, e que pertencer a qualquer das L.·. Portuguesas, conforme as circunstâncias, e situação, e qualidade da pessoa. E a G.·. L.·. de Inglaterra convém do mesmo modo em dar o seu melhor Parecer ao Provisório Governo Maçónico das L.·. em Portugal para que estabeleçam uma G.·.L.·. Nacional sobre os verdadeiros princípios da antiga Maçonaria = Dada em Londres, debaixo do nosso G.·. Selo da Maçonaria a dezoito de Maio AL.·. 5803 AD.·. 1802 = Por Ordem do Grão-Mestre = Pedro Parker17 Deputado Grão Mestre = Testemunha Guilherme White = Grande Secretario.

17 Peter Parker era Almirante da Armada inglesa que tinha sido nomeado Deputado do


Não restam dúvidas que em 1802 foi estabelecido um acordo regular entre a incipiente obediência portuguesa e a poderosíssima Grand Lodge of England, e que este tratado constituiria o fundamento, as bases, da futura Grande Loja de Portugal.

Aliás, os testemunhos coetâneos apontam nesse sentido. William Preston18, foi contemporâneo dos acontecimentos e registou-os nas suas Illustrations of Masonry:


“Na Grande Loja de Maio seguinte [1802], outra aplicação foi feita, através do mesmo canal19, a partir de quatro lojas em Portugal, que tinham dado poderes ao Sr. Hipólito José da Costa para actuar como seu representante junto da Grande Loja de Inglaterra, e em seu nome solicitar a autoridade regular para praticar os ritos da Ordem sob a bandeira inglesa e sua protecção. Após ponderada deliberação, foi determinado que

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Grão Mestre (Deputy Grand Master) George, Príncipe de Gales em Novembro de 1786. Após a sua morte em 11.12.1811, foi nomeado para o cargo de Representante do Grão-mestre (Acting Grand Master), o irmão do príncipe de Gales, Augustus Frederick, Duque de Sussex, que seria eleito Grão-mestre quando o George se tornou Regente do reino.

18 William Preston (Edinburgh, 07.08.1742-Londres, 01.04.1818). Admitido na maçonaria por volta de 1763, no ano seguinte forma em 15.11.1764 Caledonian Lodge nº 325 sob a tendência dos “Modernos” da Grand Lodge of England, loja que influiu muito no aparecimento no primeiro Grand Chapter of Royal Arch [Grande Capítulo do Arco Real]. Investigador da história da maçonaria e das suas raízes junto da Grand Lodge of Scotland e da Ancient Grand Lodge, Preston compilou matérias sobre os três graus simbólicos. Devido a um desentendimento, foi expulso da Grand Lodge of England em 1779, formando a Grand Lodge of All England South of the River Trent, que funcionou até 1789, ano em que regressou à Grand Lodge of England. O seu legado encontra-se principalmente na sua obra Illustrations of Masonry um dos maiores e melhores repositórios da história da maçonaria.

19 A Grande Loja tinha reunido anteriormente em Fevereiro de 1802, na qual as lojas em Berlim, sob os auspícios do rei da Prússia, a fim de estabelecerem relações com a Grande Loja de Inglaterra, tinham pedido a influência do Duque de Sussex, [the lodges in Berlin... had solicited the influence of the Duke of Sussex to carry a friendly communication with the Grand Lodge of England] o qual tinha estado na Alemanha em Göttingen, a estudar desde 1786. Vd.William Preston (1742-1818), Illustrations of Masonry, 12º ed. on-line, London, p. 176.


todo o encorajamento devia ser dado aos irmãos em Portugal, e um tratado foi imediatamente estabelecido e assinado pelos irmãos Da Costa e Heseltine20, e depois pelo Grande Tesoureiro da Grande Loja, e aprovado pelo Grão-Mestre representado pelo Conde de Moira21; pelo qual ficou acordado que, desde que as lojas portuguesas se conformassem com as antigas constituições da Ordem, seriam concedidos todos os poderes para terem um representante na Grande Loja de Inglaterra, e que a Grande Loja de Inglaterra teria um representante na Grande Loja de Portugal, e que os irmãos pertencentes a cada Grande Loja seriam igualmente titulares nos privilégios da outra”22.

Trata-se de um depoimento importantíssimo porquanto é a prova cabal da presença de Hipólito junto da obediência inglesa e de que foi

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20 Pensávamos que se tratava de James Heseltine, Grande Secretário da Grand Lodge of England, mas dado que este morreu em 1793, deverá tratar-se de alguém com o mesmo nome, provavelmente o seu filho, James Altham Heseltine (1777-?). Provavelmente é um lapso ou confusão de memória, pois o Grande Secretário em 1801 era William White o qual não é mencionado por William Preston. Vd. William James Hughan, Memorials of the Masonic Union of A.D. 1813…; London, Chatto and Windus, Picadilly…, 1874, p. 10.

Não se conhece o tratado original que certamente foi enviado para ao Brasil, ao futuro rei D. João VI, de acordo com a deliberação da Mesa da Inquisição no processo de Hipólito (fl. 205), sendo enviados cerca de 130 fólios correspondentes a documentos confiscados a Hipólito quando foi detido.

Todavia, o documento do acordo elaborado a 18.05.1802, na sequência da reunião da Grande Loja em 12 desse mês, dá como signatário Peter Parker deputado do Grão- mestre e não o conde de Moira, sendo o acto testemunhado por William White, Grande Secretário, o que não permite concluir a existência de qualquer contradição, uma vez que se tratam de documentos diferentes.

21 Francis Edward Rawdon-Hastings, 1º Marquês de Hastings (1754 – 1826), conhecido como Conde de Moira entre 1793 e 1816. Actuava como Grão-Mestre, o qual era na realidade o Príncipe de Gales, o futuro rei George IV que governou de 1820 a 1830. Esta figura do Acting Grand Master não se pode confundir com o Deputy Grand Master (Grão-mestre Adjunto), pois o primeiro tem a ver mais com a pessoa, enquanto o segundo se relaciona com a função.

22 William Preston (1742-1818), Illustrations of Masonry, 12º ed. on-line, London, p. 177.


feito o reconhecimento da maçonaria portuguesa sob os auspícios da Grande Loja de Inglaterra em 1802. E foi ele o executor desse grande passo.

Seria de esperar que a maçonaria contactada fosse, de acordo com os padrões da sua admissão em Filadélfia, a tradicional e conservadora Grand Lodge of All England, da tendência dos “Antigos”. Mas tal não aconteceu. Hipólito contactou a Grand Lodge of England, dos “Modernos”, não havendo qualquer dúvida, na medida em que o Conde de Moira, e Heseltine pertenciam à maçonaria dos “Modernos”. Se bem que Hipólito fosse da maçonaria “Antiga” da Pensilvânia, a verdade é que o único “canal” de que os maçons portugueses se serviram para aceder à maçonaria inglesa, fosse ela a dos “Antigos” ou a dos “Modernos” foi, indubitavelmente, o Duque de Sussex, que se encontrava em Portugal desde 1801.

Será que a incumbência das quatro lojas tinha como missão específica o contacto com a corrente dos “Modernos” ? É desconhecido o tipo de lojas que eram, ignorando-se se tinham preferência pelas Constituições de Anderson, ou pelo Ahiman Rezon. No contexto político da época, no rescaldo da Guerra das Laranjas entre Portugal e a Espanha em Janeiro de 1801, que não passou de um episódio do jogo de influências e de poder entre a França e Inglaterra, surgia como mais conveniente e interessante aos maçons portugueses – pelo menos ao sector aparentemente maioritário da maçonaria activa - estarem aliados a uma obediência que tinha o príncipe de Gales, futuro rei, como Grão-Mestre do que se ligarem ao escocês John Murray, 4º Duque de Atholl, grão-mestre dos “Antigos” de 1791 a 1812, o qual não detinha peso político.


Aliás, em 1802 as relações entre as duas correntes estavam ao rubro, pois no ano anterior, em Novembro de 1801 tinha sido deliberada a exclusão das lojas dos “antigos” que permaneciam do seio da Grand Lodge of England, ou seja as que praticavam o rito de York. E em 09.02.1803 foi dada a machadada final, decidindo-se a expulsão dos maçons do rito antigo da Grand Lodge of England23.

O que se pode concluir é que o tratado então escrito e aprovado pelo Conde de Moira, em representação do Grão-mestre, pertencia à maçonaria “moderna”24, defensora das ideias liberais, de uma abertura da maçonaria a todos os que a ela quisessem aderir sem diferenciação de credo religioso ou político, em oposição do que defendiam os “Antigos”, defensores de um certo cristianismo, redutor da universalidade maçónica.

Apesar do esforço de Hipólito, na prática não foi o modelo maçónico inglês que vingou: em primeiro lugar, nos anos de 1802 e 1803 recrudesceu a perseguição aos maçons portugueses pela inquisição; depois não houve qualquer apoio da Grand Lodge of England no que

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23 Acta Latomorum, ou Chronologie de l´ Histoire de La Franco-Maçonerie française et étrangere, Tomo I, Paris, Imprimerie de Nouzou, 1815, de Claude-Antoine Thory, p. 206 e 213, respectivamente.

24 O mesmo é corroborado pelas Acta Latomorum, ou Chronologie de l´ Histoire de La Franco-Maçonerie française et étrangere, Tomo I, Paris, Imprimerie de Nouzou, 1815,

p. 211, de Claude-Antoine Thory, que contém a seguinte referência sobre a Grand Lodge of England dos “Modernos”: Maio 1802- “Quatro lojas de Portugal fazem um pedido semelhante [ao das lojas de Berlim] e solicitam à Grande Loja a autorização para professar os Ritos de Inglaterra sob a sua protecção. Os Irmãos acedem a este pedido e a concordata é resolvida imediatamente”.

Seguindo Oliveira Marques, defende o contrário João José Alves Dias em “Hipólito e o seu Tempo: A Maçonaria em Portugal de 1727 a 1802”, em Almanaque Hipólito, 01/07/2003, publicado on-line: “Em maio do mesmo ano [1802] a Grande Loja de Inglaterra (a dos “Antigos”) reconheceu a estrutura maçónica então existente em Portugal como Obediência à sua semelhança [Grand Lodge of Portugal]”, não apontando qualquer fonte para a afirmação relativa aos “Antigos”.


respeita à formação e desenvolvimento de uma Grande Loja Nacional de Portugal; por último, abriram-se novas hipóteses maçónicas”.

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Joaquim Villalta, Vª Orden, Gr.·. 9, 33º
M.·. I.·.
Director de la Academia Internacional de la Vª Orden - UMURM
Gran Orador del Sublime Consejo del Rito Moderno para el Ecuador
Miembro Honorario del Soberano Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz de Portugal - Gran Capítulo General del Rito Moderno y Francés de Portugal
Miembro Honorario de la R.·. L.·. Estrela do Norte nº 553 del Grande Oriente Lusitano
Gran Canciller para Europa del Gran Oriente Nacional Colombiano
Miembro Honorario del Soberano Supremo Consejo del Grado 33 para el Escocismo de la República del Ecuador
Miembro Honorario del Supremo Consiglio del 33º ed Ultimo Grado del R.S.A.A. per l’Italia e sue Dipendenze
Miembro del Suprême Conseil du 33e Degré pour la France du Rite Ancien et Accepté (Cerneau's Rite)
Pasado Presidente de la Confederación Internacional de Supremos Consejos del Grado 33º del R.·. E.·. A.·. A.·.
Muy Poderoso Soberano Gran Comendador del Supremo Consejo del Grado 33º para España del Rito Antiguo y Aceptado (Rite de Cerneau)
Gran Comendador del Soberano Gran Consejo de los Príncipes del Real Secreto de España, Rito de Perfección.

Masonólogo